O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural

A diferença entre imigrantes e
transnacionais está espelhada na
história da minha própria família.
Cerca de 100 anos atrás, meu avô
emigrou da Espanha para o Bra-
sil. Deixou sua família para trás e
nunca retornou à sua vila, Ponteve-
dra, na Galícia. Como a maioria dos
imigrantes daquela época, sua úni-
ca opção era assimilar a cultura de
seu novo país. Seus filhos – minha
mãe, tios e tia – cresceram falando
o português e nunca aprenderam
o espanhol. Suas experiências com
a antiga cultura de meu avô estava
limitada à paella aos domingos, al-
gumas poesias de Rosália Castro, e
à celebração anual do 12 de Outu-
bro, o dia da Raça.
Aquilo era naquele tempo.
Hoje, a tecnologia, economia, de-
mografia, política e fatores cultu-
rais têm acelerado de forma cres-
cente a imigração transnacional.
Enquanto imigrantes transnacio-
Índice
nais, nos envolvemos em atividades
além-fronteiras, e através destas
atividades construímos “campos
sociais” relativamente estáveis,
duráveis e densamente interliga-
dos que atrelam nossos países de
origem e destino, através da cir-
culação de ideias, informações,
produtos e dinheiro, além do mo-
vimento de pessoas.
Em qualquer momento, esta-
mos firmemente assentados num
lugar particular – Boston, por
exemplo –, mas nossas vidas diá-
rias estão vinculadas e dependen-
tes de pessoas e recursos localiza-
dos em outros países.
Quando estou em Boston, in-
terajo frequentemente com minha
família, amigos e colegas no Brasil
por telefone, e-mail, ou Skype, as-
sim como muitos outros imigrantes
independentemente das suas clas-
ses sociais. Assim como eles, tenho
conta bancária e investimentos aqui
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