O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural

dos colonizadores com os colonizados,
ensinava-se primeiramente a
gramática da língua geral que se
falava nas costas do Brasil editadas
em Portugal muitíssimo antes de
podermos editar as gramáticas
brasileiras da língua comum.
Da existência de um esboço de
gramática portuguesa escrita pelo
malogrado frade carmelita e recifense
Joaquim do Amor Divino Caneca
(1774-1825), só há pouco tivemos
notícia, e seguramente não chegou a
fazer escola. Como também não fez
escola a primeira gramática brasileira
da autoria do maranhense Antônio da
Costa Duarte, publicada bem antes
do Compêndio da língua nacional, do
gaúcho Antônio Pereira Coruja, que
seguiu a tradição portuguesa da de
Antônio dos Reis Lobato e durante
muito tempo se pensou haver sido a
primeira.
Apesar do exemplário clássico e
português exibido pelos dois, não é
força de expressão dizer-se que Sotero
“pontificava” no Maranhão, como
Carneiro Ribeiro pontificaria em
Índice
seguida na Bahia. Não só pontificava,
como chegou a fazer escola. Como
também não é força de expressão
dizer-se que Sotero exportava filologia
para o resto do Império. Isso pode-se
comprovar com um curioso manual
didático do bacharel maranhense
Augusto Freire da Silva (1836-1917).
Chamava-se Noções de prosodia
e ortografia para uso da infância
que frequenta as aulas do grau do
Instituto Santista, intercaladas de
um resumo de etymologia e sintaxe,
extrahido da Grammatica Portugueza
de Francisco Sotero dos Reis pelo
Dr. Pedro Nunes Leal, sob o título de
Noções Grammaticaes, brevemente
additadas e compiladas. (São Luís,
1871).
Chegou mesmo seu autor a tirar
uma segunda edição dessa obra, “mais
correta e aumentada,” com indicação
de São Paulo, 1875, mas, com efeito,
editada em São Luís, pela tipografia
do Frias, no ano seguinte, com o novo
título de Compendio da Grammatica
Portugueza; constando [...] na parte
lógica ou discursiva de um resumo de
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