O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural

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desde 1924. O triste acontecimento dei- xou vago o assento fundado pelo maranhense Artur Azevedo e patroneado por Martins Pena. Foi o desejo de ver aquela cadeira novamente ocupada por um maranhense que levou o acadêmico Viriato Cor- rêa a tomar as providências necessárias para inscrever o amigo Josué Montello como candidato à vaga. O entusiasmo do grande historiador fez com que a de- cisão fosse tomada aparentemente sem uma consulta prévia ao principal inte- ressado no assunto. Em carta escrita em papel timbra- do da ABL, Corrêa comunica a Montello os acontecimentos. Eis a seguir alguns trechos da carta. Rio, 29-06-954 Montelo 2 Estou chegando do enterro do Cláudio de Souza. Morreu ele ontem às <strong>11</strong> horas da manhã. É que não estava logo e ensaísta paulista. Foi por duas vezes presidente da ABL. Escreveu, dentre outras obras, A Escola da Mentira e A Arte de Seduzir. 2 Nas correspondências de Viriato Corrêa sempre está grafado Montelo, com apenas um L, conforme mantivemos na transcrição. Índice em casa quando da Academia fizeram a comunicação. Eu quis telegrafar-te, mas, na Academia, me aconselharam que não fizesse. Pois o telegrama, partindo àquela hora, chegaria aí depois das notícias das agências telegráficas. Tomei todas as medidas necessárias para a tua candidatura. (...) Boas notícias: O Magalhães Júnior e o Maurício não se apresentarão. Creio que o Oliveira e Silva será candidato. Mas esse é café pequeno. É possível que o Celso Kelly também o seja, (...) esse é caso mais sério. Até agora não se fala do Zé Lins do Rego. Cuida de ti, rapaz! Não durmas no ponto. Abraço a Ivone Teu velho amigo Viriato É possível notar, pelos fragmentos transcritos, que o velho historiador conhecia o desejo de Josué Montello de recuperar a cadeira vinte e nove para seu estado natal. Fica eviden- te também que mais alguém na Aca- demia sabia que era chegada a hora da candidatura do jovem intelectual maranhense. O trecho: “... na Acade- mia, me aconselharam que não fizesse. Pois o telegrama, partindo àquela hora, chegaria aí depois das notícias 52 / 125
das agências telegráficas” mostra que havia naquela instituição uma preocu- pação em dar a notícia de modo mais completo, sem a pouca informativida- de de um telegrama feito às pressas. Viriato fala com alívio do fato de nomes como José Lins do Rego e Magalhães Júnior não concorrerem ao pleito. Na época, o autor de Menino de Engenho era um dos homens mais citados nos círculos literários, e, no ponto de vista de Viriato Corrêa, esse poderia ser um forte obstáculo à vitória de Montello. No momento, o nome de “Zé Lins do Rego” não era um problema, mas havia outro que impunha respeito, o de Celso Kelly. Este já havia sido candida- to e, mesmo tendo sido derrotado em outra ocasião, contava, pelo menos em teoria, com a simpatia de boa parte dos acadêmicos. Por isso, o autor de A Ba- laiada refere-se a ele como sendo um “caso mais sério”. Da mesma forma, é visível o desdém com que é tratada a candidatura de Oliveira e Silva, escri- Índice tor tido como “café pequeno”, ou seja, um candidato que não oferecia mui- to perigo aos planos dos demais, pois contava com pouquíssimo apoio den- tro da Casa. Restava, então, preocupar- -se com Kelly, o mais forte dos adver- sários. Posse de Josué Montello na Academia Brasileira de Letras 53 / 125 Acervo da Casa deCultura Josué Montello
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