O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural
O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural
O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Ei-las: sob cor de (= a pretexto de):<br />
“levaram-lhe uma bolsa com seis mil<br />
dobrões de ouro, sob cor de os distri-<br />
buir com esmola.” (VPAV, 151); sobre<br />
(= mais do que): “João Fernandes Viei-<br />
ra com seis mil dobrões de ouro, sobre<br />
todos, é um herói digno de admiração e<br />
reconhecimento de nós outros brasilei-<br />
ros.” (VPAV, 95); Enfim, neste tópico,<br />
sobreleva notar este exemplo de inver-<br />
são eufônica da preposição com o pro-<br />
nome demonstrativo: “quero ver agora<br />
no (= o em) que dá a sua grande candi-<br />
datura.” (I, 181).<br />
Agora, apenas dois exemplos do<br />
uso clássico de preposições e/ou de lo-<br />
cuções prepositivas: por maneira que<br />
(= de modo que): “o tráfico eleitoral de<br />
compra e venda não se introduziu senão<br />
longo tempo depois [...] por maneira<br />
que nunca se pôde saber ao certo qual<br />
o romano que abriu o exemplo de cor-<br />
romper o povo e os magistrados.” (I, 4);<br />
entretanto que (= ao passo que): “nem<br />
por isso ambicioso algum cuidou ainda<br />
de perpetuar-se no poder, entretanto<br />
que a última constituição francesa, por-<br />
que proibia expressamente pudesse ser<br />
Índice<br />
reeleito [...], foi por isso rasgada pelo<br />
presidente.” (I, 141).<br />
Estes, os mais notáveis usos clássi-<br />
cos dessa classe gramatical.<br />
Já faz muito tempo que as vestais<br />
do idioma tentaram fechar as portas do<br />
português do Brasil a quaisquer em-<br />
préstimos, principalmente franceses.<br />
Ocorre que alguns desses empréstimos<br />
se aclimataram tão bem ao idioma que<br />
aqui praticamos, que o opulentaram, e<br />
hoje tornaram-se prata de casa. Veja-<br />
mos alguns deles, acolhidos por Lisboa:<br />
“a política nas províncias cifra-se<br />
toda [...] na banalidade das declama-<br />
ções.” (I, 94);<br />
“a chicana, os doutores e os magis-<br />
trados são os que governam.” (I, 161);<br />
“a negociação de que ele reza tivera<br />
lugar durante a primeira embaixada do<br />
marquês.” (VPAV, 106);<br />
“a este lugar pertence agora a nar-<br />
ração de uma das cenas mais tocantes<br />
destes três memoráveis dias.” (I, 174);<br />
Eis aí como Lisboa não tergiversou<br />
em acolher os galicismos naturalizados<br />
107 / 125