O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural
O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural
O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
comum. Para manter a chama acesa de<br />
seus ideais, ele não vacila em consumir<br />
em pouco tempo, na publicação da Crô-<br />
nica Maranhense, a pequena heran-<br />
ça paterna que lhe coubera.Em 1840,<br />
apresenta-se candidato à Deputação na<br />
Corte. Nauseado, todavia, pelas pérfi-<br />
das manobras dos seus próprios corre-<br />
ligionários, desiste da pretensão. Dois<br />
anos depois, retorna às lides jornalís-<br />
ticas e funda o Publicador Maranhen-<br />
se, mantendo-o vivo e atuante por três<br />
longos anos com a mais rigorosa neu-<br />
tralidade política.<br />
Reeleito deputado à Assembleia<br />
Provincial, Lisboa profere no seio dela<br />
memoráveis peças oratórias, como o fa-<br />
moso Discurso sobre a Anistia dos Per-<br />
nambucanos Revoltosos, em favor do<br />
líder Nunes Machado, cujo cadáver foi<br />
velado por seus companheiros em uma<br />
capela distante do lugar do óbito, para,<br />
assim, evitar ainda mais desagradáveis<br />
contratempos.<br />
Conquanto, porém, haja produzi-<br />
do considerável cópia de artigos jorna-<br />
lísticos e proferido lapidares discursos<br />
nas assembleias políticas, Lisboa pere-<br />
Índice<br />
nizou-se em razão de suas obras, que<br />
fazem elevada figura, indistintamente,<br />
no campo da Historiografia e da Litera-<br />
tura.<br />
Dado eloquente para que se pos-<br />
sa apurar o timbre de seu caráter e sua<br />
personalidade é a publicação do folheto<br />
Jornal de Tímon, que ele fez distribuir<br />
mediante assinatura mensal, de 1852<br />
a 1854. O nome de Tímon lhe ocorreu<br />
da antiguidade grega. Esse personagem<br />
existiu de fato, e ficou na História como<br />
amigo das letras e homem virtuoso, ao<br />
mesmo tempo que rigoroso vigilante<br />
pela prática das virtudes públicas. Não<br />
era tido, por esse mister, como figura<br />
acessível e de gênio fácil, retratando-se,<br />
antes, como intimista e pessimista. Sob<br />
a máscara daquele Tímon antigo, o Tí-<br />
mon Maranhense pôde criticar acerba-<br />
mente os vícios e os costumes políticos<br />
de seus muito pouco éticos correligio-<br />
nários. Reportemo-nos, neste ponto, a<br />
um de seus editores: “João Francisco<br />
Lisboa, em todos os jornais que escre-<br />
veu, disse sempre o que pensava, tudo<br />
que pensava, com uma decência mode-<br />
lar de fundo e de forma, de pensamento<br />
98 / 125