O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural

sempre envolver-se numa luta supliciante, que não chegará nunca a um
termo, nem melhorará nada na vida de ninguém.
E por quê? Porque toda e qualquer luta exterior combate os efeitos, mas
não as causas, enxerga os meios, mas não alcança os fins. A Liberdade,
a verdadeira Liberdade começa pela libertação interior: é o que Jesus
proclama com o nome de Reino de Deus, luta a travar-se dentro de cada
homem, contra o maior inimigo que é ele mesmo, contra as suas servi-
dões recônditas, seu instinto destrutivo, sua propensão ao ódio, à mal-
dade, às baixas paixões a que ele tende naturalmente, àquilo que em
jargão religioso tem o nome de pecado.
É fácil ver, daí, que tipo de revolucionário foi Jesus: um revolucionário
da reharmonização do homem consigo mesmo, antes de tudo, para de-
pois, e como consequência óbvia, obter a transformação de todas as es-
truturas sociais em que esteja encastelada a injustiça e a maldade. Nes-
se sentido, não houve na História maior revolucionário que ele, porque
ninguém exigiu tanto da consciência humana.
Entenda-se bem: implicar-se numa revolução dessas não é assumir o
passivismo, o quietismo, a imobilidade, o absenteísmo, ou esperar de
braços cruzados, e apenas torcer para que Deus apresse o espetáculo de
torrar os maus nos churrascos do Apocalipse. Não. “Cristo não pregou
nem liderou nenhuma revolução política contra os romanos dominado-
res, mas não hesitou em combater todas as estruturas sociais e religiosas
que estivessem em oposição com o novo homem e o novo comporta-
mento que Ele se propunha inaugurar. Insurge-se não somente con-
tra os profanadores do templo, mas sobretudo contra os opressores do
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