O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural
O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural
O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
gramático negro da língua, um dos primeiros professores negros do Colégio Pedro<br />
II, aprovado aos 20 anos de idade, e o primeiro professor negro da Escola Militar<br />
do Rio de Janeiro, Hemetério José dos Santos, era maranhense de boa cepa.<br />
Que muitos literatos e intelectuais negros e afrodescendentes brasileiros, saíram<br />
do Maranhão, e que, por isso, a tantas vezes citada Atenas Brasileira, por mais<br />
preconceituosa que fosse, como exemplifica O mulato de Aluísio Azevedo, possuía<br />
também suas aberturas a alguns casos excepcionais.<br />
Quem se lembra, no entanto, que esta cidade já possuiu no século XIX<br />
o mais avançado parque editorial e tipográfico do país, editando, primeiro aqui,<br />
traduções de livros e romances que, mais tarde, seriam publicados no resto do<br />
País? Quem se lembra que Raimundo Teixeira Mendes, o papa da Igreja Positivista<br />
brasileira, um dos líderes do movimento que culminou com a Proclamação da<br />
República, é o autor do desenho da atual bandeira brasileira? Qual o maranhense<br />
que ainda hoje bate orgulhosamente o peito ao lembrar que é da mesma terra de<br />
Odorico Mendes e Carlos Alberto Nunes, os dois maiores tradutores de Homero<br />
da língua portuguesa, cujas traduções são copiosamente editadas até hoje?<br />
Quantos maranhenses de nossos dias orgulham-se de fato de que um dos maiores<br />
precursores da modernidade literária internacional saiu dessas plagas, o genial<br />
poeta faber Sousândrade, nos termos de Ezra Pound? Ou de nomes influentes<br />
em outros setores da cultura, como Newton Sá (escultura), Antônio Almeida,<br />
Floriano Teixeira (pintura), Antônio Rayol, Turíbio Santos (música), Apolônia<br />
Pinto (teatro), sem mencionar tantos outros mais, tão brilhantes quanto? E em<br />
nome de quê, torno a perguntar, tudo isso está sendo perversamente esquecido e<br />
abandonado, como se fosse uma maldição, uma reles mentira, uma ilusão com a<br />
qual tivéssemos sido cegados e ludibriados durante quase 200 anos de história?<br />
Índice<br />
44 / 125