O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural

viviam esperando pelo Messias Salvador. Mas já demorava por demais o cumpri-
mento daquela promessa, e muitos já não acreditavam mais nela;
– Embora partindo da visão negativa dos judeus quanto à origem do
homem e seu destino, Jesus a ultrapassa e a transforma numa possibilidade po-
sitiva. Ele mesmo se anuncia como capaz de reatar as relações rompidas entre o
homem e seu Criador, convidando cada ser humano a fazer a mesma coisa: pois,
se um pai humano não nega o pão ao filho que o pede, assim o Pai-Deus não nega
a salvação a quem a procure;
– Aqueles eram tempos em que nenhum apreço se tinha aos pobres, às
mulheres, às viúvas, aos órfãos, às crianças, aos doentes, aos escravos, aos prisio-
neiros, desvalidos da terra. Jesus dedicará – e recomendará – amor de predile-
ção aos miseráveis anônimos de seu e de todos os tempos, uma vez que “pobres
sempre os tereis entre vós”. Na proclamação-síntese de sua mensagem, esses é
que serão os bem-aventurados.
A antropologia cristã: da nova Ontologia para a Ética mais
comprometedora
Falaremos, com todo fundamento, da “Ética de Jesus”, porque parece
inegável que os “princípios fundadores” do Cristianismo vêm do Jesus histórico,
apreendidos de seu modo de ser e de viver. Ou seja, os “cristianistas” (os apósto-
los, os primeiros pensadores cristãos) não terão inventado uma religião a partir
de Jesus, mas explicitado em doutrina e pensamento o que Jesus era e vivera. É
certo que não se deve escamotear alguma “filtragem adaptadora”, não da mensa-
gem nuclear que está no “modelo Jesus”, mas das implicações laterais de sua men-
sagem. Da mesma forma, pelo débito que todos pagamos à nossa humanidade e à
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