O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural
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gramaticais dentro dessa filosofia<br />
linguística, e incidiu em alguns erros<br />
da Gramática portuguesa de Antônio<br />
José dos Reis Lobato (1770), como o<br />
de enxergar elipses por toda a parte,<br />
como lucidamente já mostrara José<br />
Leite de Vasconcelos.[3]<br />
Seguindo a tradição gramatical<br />
da Minerva, de Sanchez de las Brozas,<br />
Sotero partiu sempre do latim para<br />
o português, e não de modo inverso,<br />
como às vezes hoje se costuma fazer.<br />
Conquanto apreciasse a concisão do<br />
conceito de gramática formulado por<br />
Lancelot e Arnault, adotou ele a de<br />
Du Marsais, ressuscitado hoje pela<br />
Nova Retórica, do grupo µ. Este grupo<br />
considera a Gramática Geral ciência<br />
da palavra, e a Gramática Particular,<br />
arte, pois que esta é uma aplicação<br />
prática daquela. Em termos modernos,<br />
a Gramática Geral estaria mais para<br />
aquilo a que o sistema saussuriano<br />
chamou de langue, enquanto a<br />
Gramática Particular estaria para<br />
aquele sistema o que chamou de<br />
parole.<br />
Sotero publicou suas Postillas de<br />
Índice<br />
grammatica geral; aplicada à língua<br />
portuguesa pela analyse dos clássicos;<br />
ou guia para a construção portuguesa<br />
(São Luís, MA, Belarmino de Matos,<br />
1862) e a Grammatica portuguesa<br />
accommodada aos princípios geraes<br />
da palavra seguidos de imediata<br />
aplicação pratica (São Luís, MA,<br />
Belarmino de Matos, 1866 e 1871);<br />
esta segunda corrigida e anotada pelos<br />
filhos do autor sob a orientação do<br />
prof. Luís Carlos Pereira de Castro; e<br />
do editor Magalhães, a terceira edição,<br />
em 1877, ambos os editores de São<br />
Luís do Maranhão. O fato de serem<br />
maranhenses essas três edições é uma<br />
prova incontestável do prestígio que<br />
experimentaram no meio científico da<br />
época.<br />
Antes de crucificá-lo como<br />
passadista e retrógrado, primeiro se<br />
deve perguntar qual era a tradição<br />
gramatical brasileira anterior<br />
a ele. Quase nenhuma, todos<br />
responderão. Nas escolas, ensinava-<br />
se primeiramente latim, e, só depois,<br />
o português. Nos primórdios de nossa<br />
colonização, a bem do entendimento<br />
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