O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural

Assim que a notícia da morte de
Cláudio de Sousa foi divulgada, a im-
prensa ligada à literatura começou a
especular sobre quem seriam os prová-
veis candidatos. Alguns imortais foram
consultados a respeito de suas prefe-
rências. O poeta Manuel Bandeira, alu-
dindo ao fato de que tanto o fundador,
quanto o patrono e o último ocupante
terem sido homens de grande tradi-
ção no teatro, fez a seguinte declaração
para o jornal Última Hora, do dia 03 de
julho de 1954: “Deve ser escolhido um
homem de teatro, em honra ao patro-
no”.
A declaração do poeta pernambu-
cano era discretíssima e não dizia nada
de concreto, pois os candidatos mais
cotados para a vaga, Celso Kelly e Josué
Montello, eram também ligados ao tea-
tro, ou seja, Bandeira saiu pela tangente
e não disse em quem votaria.
Enquanto isso, em Lima, onde es-
tava a trabalho, Montello, depois de ler
a carta enviada por Viriato Corrêa nar-
Índice
rando os últimos acontecimentos, no
primeiro tempo disponível que teve,
começou a escrever cartas aos acadê-
micos. 3 Todas as cartas primavam pela
elegância, mas com o apuro estilísti-
co que marcou os mais de cem livros
publicados pelo autor. Nas cartas, ele
apresenta seu nome para os acadêmi-
cos, sem, contudo, enumerar os prê-
mios conquistados, as obras editadas,
nem os altos cargos por ele exercidos.
De modo claro e simpático, ele coloca o
nome à disposição daqueles que tinham
o poder de voto, envolvendo os desti-
natários em uma atmosfera de amisto-
sa humildade, o que, sem dúvida, deve
ter-lhe rendido vários votos no dia da
eleição. Uma das cartas escritas não foi
enviada para os imortais da Academia,
mas para seu principal adversário na
corrida rumo à ABL, Celso Kelly. Tal
atitude revela dois traços importantes
na personalidade do escritor: o respei-
to pelo adversário e sua diplomacia.
3 As cartas e telegramas escritos por Josué Montello foram organizados por Yvone
Montello e estão disponíveis para pesquisa na Casa de Cultura Josué Montello.
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