O Globo, 05/11/1954 - Geia Plural
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Uma vida exemplar<br />
João Lisboa nasceu aos 22 de mar-<br />
ço de 1812, na freguesia de Nossa Se-<br />
nhora das Dores do Itapecuru-Mirim,<br />
Maranhão, de abastada família de pro-<br />
prietários rurais.<br />
Tendo iniciado estudos de primei-<br />
ras letras em São Luís, abandonou-os<br />
aos <strong>11</strong> anos, obrigado, pela morte do<br />
pai, a entregar-se aos cuidados dos<br />
avós, no interior da Província. Aos 15<br />
anos, foi caixeiro de uma casa de co-<br />
mércio são-luisense. Mas já aos 17<br />
anos, em 1829, encontrou o caminho<br />
certo da vocação que haveria de con-<br />
sagrar-lhe o futuro: trocando o comér-<br />
cio pelos estudos humanísticos, fez-se<br />
aluno particular de Francisco Sotero<br />
dos Reis, o afamado latinista e gramá-<br />
tico exigente.<br />
João Lisboa chegou à juventude em<br />
momentos agitados do Brasil recém-<br />
-independente. No Maranhão, onde<br />
predominava a presença portuguesa,<br />
precisava-se de pouco pretexto para<br />
que velhos desentendimentos ainda<br />
dos tempos do Estado Colonial ganhas-<br />
Índice<br />
sem as ruas e as páginas da imprensa,<br />
então incipiente, aqui e em todo o País.<br />
Destaque-se o Sete de Abril, a abdica-<br />
ção de D. Pedro I, em 1831. O retorno<br />
do impetuoso governante a Portugal<br />
de tal modo fez recrudescer a animo-<br />
sidade dos brasileiros em ralação aos<br />
portugueses, que, a 13 de setembro da-<br />
quele ano, a força pública e o povo do<br />
Maranhão exigiam do presidente pro-<br />
vincial, Araújo Viana – o Visconde, de-<br />
pois Marquês, de Sapucaí, hoje famoso<br />
pela praça que lhe consagra o nome nos<br />
desfiles das escolas de samba no Rio de<br />
Janeiro –, a destituição de todos os por-<br />
tugueses, mesmo os naturalizados bra-<br />
sileiros, dos empregos que tinham, em<br />
razão do artigo 6º da Constituição do<br />
Império, e a consequente deportação<br />
deles para Portugal. Entre os signatá-<br />
rios do documento em que reivindica-<br />
vam tal medida, encontrava-se o jovem<br />
Lisboa, de apenas 18 anos de idade, e<br />
que no protesto se associara ao parente<br />
José Cândido de Moraes e Silva, conhe-<br />
cido como O Farol, por antonomásia<br />
tomada ao Farol Maranhense, jornal<br />
que fundara, de ferrenha oposição ao<br />
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