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C:\ARQUIVO DE TRABALHO 2010\EDI - Unama

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mas, quando chega o momento de Polinice<br />

assumir o trono, Etéocles se recusa a cumprir o<br />

acordo, em razão do que, Polinice ataca a cidade.<br />

Etéocles e Polinice morrem um pela mão<br />

do outro. Por essa razão, Creonte, irmão de<br />

Jocasta, assume o poder no reino (tais fatos<br />

estão narrados noutra tragédia, os Sete contra<br />

Tebas, de Ésquilo).<br />

O primeiro édito de Creonte diz respeito<br />

ao sepultamento dos irmãos, determinando que<br />

Etéocles receba todas as honrarias fúnebres e<br />

que Polinice, por ter atacado a cidade, permaneça<br />

insepulto, exposto numa cercania deserta,<br />

para que tenha seu corpo dilacerado pelas<br />

aves de rapina e pelos cães. Para Creonte, negar<br />

sepultamento ao corpo de Polinice serviria<br />

de exemplo para todos os que pretendessem<br />

tramar contra o governo de Tebas.<br />

Antígona se nega a dar cumprimento ao<br />

édito real e, aproveitando-se de um cochilo dos<br />

guardas, toma o corpo de Polinice, leva-o a um<br />

local afastado, cobre-lhe com uma camada de cal,<br />

presta-lhe as honras fúnebres e faz seu sepultamento.<br />

Contudo, uma forte ventania traz um redemoinho<br />

de vento que levanta a areia e traz o<br />

corpo de Polinice de volta à superfície. É, nesse<br />

momento, descoberta pelos guardas e conduzida<br />

até a presença de Creonte, ocasião em que<br />

sustenta que nenhum homem pode lançar éditos<br />

que contrariem as leis divinas e que o direito<br />

ao sepultamento decorre diretamente das leis<br />

dos deuses, segundo Antígona, mais antigas e<br />

superiores às terrenas. Ismênia, que no início da<br />

peça tinha sido procurada por Antígona e tinha<br />

recusado participar do plano para dar funeral e<br />

sepultamento ao irmão, tenta assumir a culpa<br />

junto com a irmã, mas Creonte inocenta Ismênia<br />

e condena apenas Antígona a morrer de fome<br />

emparedada numa antiga prisão de pedra, que<br />

lhe serviria de túmulo em vida.<br />

Hêmon, filho de Creonte e noivo de<br />

Antígona, tenta dissuadir o pai, lembrandolhe<br />

de que um governante não pode governar<br />

sem o apoio de seu povo, e que toda a<br />

cidade discordava de sua determinação e<br />

estava de acordo com o gesto de Antígona,<br />

pois, como ela, considerava sagrado o direito<br />

ao sepultamento.<br />

A resistência de Creonte só é dirimida<br />

com a intervenção de um adivinho, Tirésias, que<br />

prevê que um grande mal se abaterá sobre o rei<br />

em razão de sua teimosia. Creonte cede, dá, ele<br />

mesmo, sepultamento a Polinice, mas já é tarde.<br />

Ao buscar Antígona para libertá-la, descobre<br />

que a mesma cometera suicídio. Ao saber<br />

da morte de Antígona, Hêmon, filho de Creonte,<br />

também se mata, seguido por Eurídice, esposa<br />

de Creonte, ao tomar conhecimento da<br />

morte do filho.<br />

3 A RELAÇÃO DOS FATOS DA TRAGÉDIA GRE-<br />

GA E DA GUERRILHA PELA ÓTICA JURÍDICA<br />

As situações descritas pela tragédia Antígona<br />

colocam profundas questões para a Ciência<br />

Jurídica. Para o tema aqui tratado, é possível,<br />

dentre as diversas questões que surgem da<br />

narrativa grega, destacar: a natureza do direito<br />

ao sepultamento, a titularidade do direito ao<br />

sepultamento, o conflito entre o Direito Natural<br />

e o Direito Positivo e o simbolismo da condenação<br />

à pena de insepulto aquele que atenta<br />

contra o governo.<br />

Como em Antígona, o governo de exceção<br />

negou às famílias dos acusados de atentar contra<br />

o Estado, o direito ao sepultamento. O simbolismo<br />

contido nesta negação pode ser dimensionado<br />

quando comparamos este fato com a existência<br />

de túmulos ou monumentos aos soldados<br />

desconhecidos, soldados esses que, simbolica-<br />

143<br />

Movendo Ideias, Belém, v. 14, n.1, p.137-148, jun. 2009

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