Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ
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Ten<strong>do</strong> recebi<strong>do</strong> a resposta da DCDP, o diretor <strong>do</strong> filme, Arnal<strong>do</strong> Jabor, enviou,<br />
alguns dias <strong>de</strong>pois, uma carta ao chefe da DCDP pedin<strong>do</strong> a revisão da censura feita ao<br />
filme Toda nu<strong>de</strong>z será castigada. Nela alegava que, se as cenas <strong>do</strong> filme fossem<br />
cortadas, o entendimento e seqüência da película seriam prejudica<strong>do</strong>s.<br />
O diretor argumentava que, no primeiro corte, a palavra “suruba” não <strong>de</strong>via ser<br />
cortada, pois aparecia <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> contexto, já que foi pronunciada em um prostíbulo e,<br />
sen<strong>do</strong> assim, não chocaria o especta<strong>do</strong>r. Quanto ao segun<strong>do</strong> corte, a aparição <strong>do</strong><br />
homossexual, o diretor escreveu que era absolutamente leve e que o mesmo tipo<br />
aparecia também em programas televisivos. Nesse caso, a saída <strong>do</strong> homossexual tiraria<br />
sumariamente o personagem <strong>do</strong> filme, posto que só aparecia naquela cena. Em seguida,<br />
Jabor fez uma ressalva mais prolongada e <strong>de</strong>talhada sobre o quarto corte, que incidia<br />
sobre uma gran<strong>de</strong> seqüência da película, a da <strong>de</strong>legacia. Jabor disse que não havia a<br />
intenção <strong>de</strong> fazer uma acusação sobre a irresponsabilida<strong>de</strong> policial. O diretor alegava<br />
que não se tratava <strong>de</strong> uma crítica à polícia, mas uma cena satírica critican<strong>do</strong> o “mal<br />
atendimento burocrático”. A cena era importante para o entendimento <strong>do</strong> filme.<br />
A sugestão <strong>de</strong> eliminar a cena na qual Geni aparecia fazen<strong>do</strong> o gesto com a mão<br />
aparentemente foi acatada ou, pelo menos, não foi mencionada na carta <strong>de</strong> Jabor.<br />
Ao receber o pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> reconsi<strong>de</strong>ração, a DCDP repetiu to<strong>do</strong> o processo. Desta<br />
vez, os censores responsáveis pela análise <strong>do</strong> processo foram Marly Cavalcanti <strong>de</strong><br />
Albuquerque e José Augusto Costa, que elaboraram um parecer dizen<strong>do</strong> que o filme<br />
realmente tinha uma mensagem negativa. Sen<strong>do</strong> assim, mantiveram to<strong>do</strong>s os cortes e<br />
acrescentaram, ainda, o corte <strong>de</strong> mais uma seqüência, a última cena, na qual o filho<br />
Serginho foge com um “ladrão boliviano”.<br />
Como po<strong>de</strong> ser observa<strong>do</strong> nesse exemplo, o recurso podia ser uma faca <strong>de</strong> <strong>do</strong>is<br />
gumes, pois o diretor tanto po<strong>de</strong>ria conseguir que sua solicitação fosse atendida como<br />
po<strong>de</strong>ria ter o seu filme ainda mais mutila<strong>do</strong>.<br />
Toda nu<strong>de</strong>z será castigada foi finalmente libera<strong>do</strong>, em fins <strong>de</strong> 1972, para<br />
maiores <strong>de</strong> 18 anos, com os cortes já menciona<strong>do</strong>s, e tanto angariou a simpatia <strong>do</strong>s<br />
críticos, como conseguiu obter, nas primeiras semanas <strong>de</strong> exibição, uma consi<strong>de</strong>rável<br />
bilheteria: 323<br />
323 Por exemplo, uma matéria em O Globo, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1973, dizia: “Cinco semanas <strong>de</strong> exibição <strong>do</strong><br />
filme “Toda nu<strong>de</strong>z será castigada”, somente no Cinema Roxy, ren<strong>de</strong>ram CR$ 512.606,00. Uma<br />
consagração para Arnal<strong>do</strong> Jabor, o realiza<strong>do</strong>r cinematográfico, e Nélson Rodrigues, o autor da história.”