Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ
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cartas <strong>de</strong> cidadãos indigna<strong>do</strong>s com as cenas a que eram submeti<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os dias, como<br />
a <strong>de</strong> “Maria <strong>do</strong> Carmo ao passar diante <strong>de</strong> uma banca <strong>de</strong> jornais [e ver] reluzente <strong>de</strong><br />
traseiros”. Lida Maria Perosa, então presi<strong>de</strong>nte da Liga das Professoras Católicas,<br />
percebia na pornografia uma, “conspiração <strong>do</strong> sionismo internacional, interessa<strong>do</strong> em<br />
<strong>de</strong>struir as tradições da socieda<strong>de</strong> cristã”. 355<br />
Na Câmara houve iniciativas no intuito <strong>de</strong> barrar a exibição <strong>do</strong>s filmes<br />
pornográficos. Nesse senti<strong>do</strong>, o <strong>de</strong>puta<strong>do</strong> Jorge Arbage (PDS/PA) apresentou um<br />
projeto que consi<strong>de</strong>rava crime <strong>de</strong> ultraje público ao pu<strong>do</strong>r a exibição <strong>de</strong> filmes<br />
pornográficos. A pena po<strong>de</strong>ria chegar a seis meses <strong>de</strong> prisão. 356<br />
Foi justamente nos primeiros anos da década <strong>de</strong> 1980 que esteve à frente da<br />
DCDP Solange Herna<strong>de</strong>z. A funcionária ficou bastante conhecida no meio artístico,<br />
porque tentava fazer com que a DCDP não morresse em uma época <strong>de</strong> abertura. Ela<br />
ficou conhecida como “Solange Tesourinha”. 357<br />
Afirmamos que havia um tácito acor<strong>do</strong> entre Embrafilme, DCDP e crítica<br />
especializada <strong>de</strong> que as pornochanchadas eram ruins, mas garantiam a sobrevivência <strong>do</strong><br />
cinema nacional, opinião reafirmada por diretores da época como Carlos Mossi, que<br />
comentou que “se não fossem os filmes eróticos os cinemas brasileiros estariam as<br />
moscas”. 358 Como foi dito, esse tácito acor<strong>do</strong> fez com que a Embrafilme produzisse<br />
obras <strong>de</strong> cunho erótico que acabavam sen<strong>do</strong> minimizadas, posto que obras <strong>do</strong> cinema<br />
estrangeiro com teor licencioso eram barradas pela DCDP.<br />
Em 1980, o presi<strong>de</strong>nte Figueire<strong>do</strong> recebeu os <strong>de</strong>puta<strong>do</strong>s evangélicos Daso<br />
Coimbra (PP-RJ), Igo Losso (PDS-PR) e Joel Ferreira (PDS-AM), o pastor Nilson<br />
Amaral Fanini e o reveren<strong>do</strong> Isaías Souza Maciel. Após a reunião Fugueire<strong>do</strong> mostrouse<br />
“impressiona<strong>do</strong> com o excesso <strong>de</strong> pornografia em revistas e no cinema e criticou a<br />
posição da Embrafilme – empresa estatal <strong>de</strong> cinema – que anda financian<strong>do</strong> essas<br />
coisas”. 359 Figueire<strong>do</strong>, em 1982, convocaria a socieda<strong>de</strong> brasileira<br />
para uma cruzada contra o que <strong>de</strong>finiu como ‘uma onda <strong>de</strong> erotismo e relaxamento<br />
<strong>de</strong> costumes’ e, ainda, ‘a escalada <strong>do</strong> obsceno e <strong>do</strong> pornográfico’. Em<br />
pronunciamento transmiti<strong>do</strong> à noite por ca<strong>de</strong>ia nacional <strong>de</strong> rádio e <strong>de</strong> televisão,<br />
Figueire<strong>do</strong> enfatizou que essa convocação se dirigia a todas as forças da socieda<strong>de</strong>,<br />
355 Isto É. 1 <strong>de</strong> out. <strong>de</strong> 1980. p. 13.<br />
356 Gazeta <strong>de</strong> Notícias. 19 <strong>de</strong> mar <strong>de</strong> 1982. p. 7.<br />
357 Revista Isto É. 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z <strong>de</strong> 1984. Nesta data a revista publicou um especial sobre censura <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong><br />
o papel <strong>de</strong> Solange Hernan<strong>de</strong>z a frente da DCDP.<br />
358 Jornal <strong>do</strong> Comércio. 28 <strong>de</strong> jul. <strong>de</strong> 1985.<br />
359 Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas. 1 <strong>de</strong> ago. <strong>de</strong> 1980.