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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

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114<br />

a película enfoca, sob o ponto <strong>de</strong> vista negativo, os processos imorais que<br />

consubstanciam as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sonestas e ilegais. Fica patentea<strong>do</strong> que os meios<br />

escusos po<strong>de</strong>m ter um bom <strong>de</strong>sfecho. Os valores morais são relega<strong>do</strong>s, assim como<br />

as estruturas sociais são <strong>de</strong>turpadas. No final, quan<strong>do</strong> ela resolve aceitar o antigo<br />

namora<strong>do</strong>, após este ter consegui<strong>do</strong> vencer uma corrida e ganhar eleva<strong>do</strong> prêmio,<br />

configura-se a importância <strong>de</strong>smedida que a mesma dava ao dinheiro, sacrifican<strong>do</strong><br />

para isso sentimentos e princípios. 342<br />

Novamente o que traz o parecer <strong>do</strong> censor é a preocupação com o teor da<br />

mensagem final, ou seja, a moral da história. Nesse caso a falta <strong>de</strong> re<strong>de</strong>nção <strong>de</strong> Sonia –<br />

ou melhor, o fato <strong>de</strong> no fim <strong>do</strong> filme ela ter fica<strong>do</strong> com seu antigo namora<strong>do</strong> porque ele<br />

conseguiu enriquecer – faz com que a censura seja rigorosa e tente proibir a exibição <strong>do</strong><br />

filme.<br />

Também é interessante notar a carta da produtora Eletrofilmes que, após saber da<br />

proibição, solicitou uma nova avaliação da censura. A produtora reconheceu que o filme<br />

era provoca<strong>do</strong>r e atribui isso ao público e ao merca<strong>do</strong> nacional. Ou seja, segun<strong>do</strong> a<br />

produtora, era necessário esse tipo <strong>de</strong> produção, já que o merca<strong>do</strong> tinha essa <strong>de</strong>manda.<br />

Café na cama teve seu roteiro original basea<strong>do</strong> no romance homônimo, <strong>de</strong> Marcos<br />

Reis, (...) cuja estória <strong>de</strong>senvolveu-se sobre uma temática sexy e ousada, bem ao<br />

gosto <strong>do</strong> público brasileiro e <strong>de</strong>ntro da realida<strong>de</strong> social contemporânea. Como sabe<br />

V. Ex., o cinema está vincula<strong>do</strong> à arte, mas é também indústria e comércio. E, como<br />

industriais <strong>de</strong> cinema, que somos, temos, por questão <strong>de</strong> sobrevivência, <strong>de</strong> nos ater<br />

àquilo que o público <strong>de</strong>seja e quer ver, e nem sempre po<strong>de</strong>mos nos dar ao luxo <strong>de</strong><br />

produzirmos aquilo que nos agradaria. (...) Gostaríamos ainda <strong>de</strong> fazer ver a V. Ex.,<br />

que uma produtora como a nossa estaria con<strong>de</strong>nada inapelavelmente à falência se<br />

incidisse em Café na cama uma proibição total. 343<br />

O filme acabou sen<strong>do</strong> libera<strong>do</strong> com cortes.<br />

A crítica ao filme foi também bastante severa. O famoso bonequinho <strong>de</strong> O<br />

Globo <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> se retirar no meio da sessão e José Carlos Monteiro diz que o filme<br />

é outra horrível chanchada erótica brasileira, sem a mínima qualida<strong>de</strong> artística, mas<br />

com futuro comercial assegura<strong>do</strong>. Por isso, criticá-la seriamente é pura perda <strong>de</strong><br />

tempo. Afinal <strong>de</strong> contas, noventa por cento <strong>do</strong>s produtos <strong>do</strong> gênero são, na verda<strong>de</strong>,<br />

coisas <strong>de</strong>ste tipo, in<strong>de</strong>fensáveis sob o aspecto estético, porém, perfeitamente viáveis<br />

<strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista industrial. 344<br />

Embora alguns diretores da Embrafilme tenham feito discursos contra o cinema<br />

342 AN, coor<strong>de</strong>nação regional <strong>do</strong> Arquivo Nacional no Distrito <strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong>. Fun<strong>do</strong>: Divisão <strong>de</strong> Censura <strong>de</strong><br />

Diversões Públicas. Série: “Censura Prévia”. Sub-série: programação cinematográfica. Processo <strong>do</strong> filme<br />

Café na cama. 02/10/1973.<br />

343 I<strong>de</strong>m.<br />

344 O Globo. 24 <strong>de</strong> abr. <strong>de</strong> 1974.

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