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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

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31<br />

Durante os anos 1970 e 1980 as comédias eróticas nacionais alcançaram gran<strong>de</strong><br />

sucesso nos cinemas. No entanto, com a entrada cada vez maior <strong>de</strong> filmes estrangeiros<br />

<strong>de</strong> teor libidinoso nas salas <strong>de</strong> projeção <strong>do</strong> Brasil, o cinema da Boca <strong>do</strong> Lixo foi<br />

entran<strong>do</strong> em crise. A chegada <strong>de</strong> mais filmes estrangeiros trouxe <strong>de</strong> volta a discussão<br />

sobre a hegemonia <strong>do</strong> cinema norte-americano no Brasil. A esse respeito, um <strong>do</strong>s<br />

principais pensa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> cinema brasileiro, Paulo Emílio Sales Gomes, teria dito antes<br />

<strong>de</strong> morrer: “prefiro a pior pornochanchada brasileira ao melhor filme <strong>de</strong> arte <strong>de</strong> origem<br />

estrangeira. Prefiro ver uma coisa nossa, mesmo que <strong>de</strong> má qualida<strong>de</strong>, a assistir uma<br />

obra prima que pouco ou nada tenha a ver com o povo brasileiro.” 74<br />

Durante a década <strong>de</strong> 1980 o cinema passou por uma gran<strong>de</strong> crise, <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong><br />

corrupção na principal financia<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> cinema (Embrafilme) e, como vimos, a<br />

<strong>de</strong>cadência <strong>do</strong>s filmes da Boca <strong>do</strong> Lixo tiraram o público frequenta<strong>do</strong>r das salas<br />

cinematográficas.<br />

Esse panorama <strong>do</strong> cinema nacional é importante para nossa análise porque, em<br />

vários momentos, essa produção cinematográfica se chocou com a censura. Além disso,<br />

é essencial notar como o Esta<strong>do</strong> teve um papel fundamentalmente importante, tanto na<br />

construção <strong>de</strong> uma empresa <strong>de</strong> cinema, quanto na formação <strong>de</strong> um público assíduo nas<br />

salas em que estivessem sen<strong>do</strong> exibi<strong>do</strong>s os filmes nacionais.<br />

A valorização da estética <strong>do</strong> pobre, <strong>do</strong> ruim, <strong>do</strong> feio, em que ecoava certa “alma<br />

<strong>do</strong> povo” brasileiro, foi uma questão que se impôs entre o cinema e a ditadura militar, já<br />

que no i<strong>de</strong>ário <strong>do</strong> regime também esteve contemplada a questão da folclorização <strong>do</strong>s<br />

hábitos nacionais. Se, <strong>de</strong> um la<strong>do</strong>, havia essa idéia, <strong>de</strong> outro observa-se uma tentativa <strong>de</strong><br />

formar um “Brasil gran<strong>de</strong>”, tanto econômica, quanto socialmente. Nesse senti<strong>do</strong>, as<br />

agências <strong>de</strong> propaganda <strong>de</strong>sempenharam muito bem o papel <strong>de</strong> produtoras <strong>de</strong> um<br />

discurso que privilegiava as belezas naturais e o folclore “genuinamente” nacional<br />

recorren<strong>do</strong> ao cinema e à TV para atingir o especta<strong>do</strong>r 75<br />

De fato havia durante a ditadura a valorização <strong>do</strong> que era nacional, no entanto era<br />

um nacional glamoriza<strong>do</strong> e pouco crítico. Nesse senti<strong>do</strong>, nas principais campanhas da<br />

Aerp percebe-se que <strong>de</strong>terminadas temáticas foram recorrentes, como a questão da<br />

“construção” e da “reconstrução”. Caberia ao novo governo promover a reconstrução da<br />

socieda<strong>de</strong> brasileira <strong>de</strong>sse novo tempo, posto que, para os militares, o país vivia um<br />

74 Folhetim. 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1979.<br />

75 FICO, Carlos. Reiventan<strong>do</strong> o otimismo: ditadura, propaganda e imaginário social no Brasil. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>: FGV, 1997. pp. 73-88.

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