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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

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15<br />

Dessa forma, procuran<strong>do</strong> não reduzir a análise <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da ditadura militar à<br />

dicotomia entre vítimas e algozes, torna-se importante analisar a dinâmica da socieda<strong>de</strong><br />

brasileira e a forma como ela se relacionava com o governo nas ativida<strong>de</strong>s cotidianas,<br />

em cujo contexto o indivíduo se utilizava <strong>de</strong> táticas para sobreviver em meio a situações<br />

específicas. 21 Assim, ao analisar os processos <strong>do</strong>s filmes censura<strong>do</strong>s pela DCDP,<br />

encontramos pistas mais apuradas para o entendimento da socieda<strong>de</strong> naquele momento.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a DCDP aparecia como uma po<strong>de</strong>rosa instituição, pois a censura<br />

exercida por ela tinha reconhecida utilida<strong>de</strong> pública para algumas camadas da<br />

socieda<strong>de</strong>. Além disso, sua legitimação não se dava no campo da censura política, mas<br />

fundamentalmente da censura moral. Ou seja, mesmo enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> to<strong>do</strong> ato censório<br />

como uma questão política, é importante dividir as motivações pelas quais os censores<br />

vetavam as obras cinematográficas, até mesmo com o intuito <strong>de</strong> notar até que ponto essa<br />

instituição recebia apoio <strong>de</strong> parcelas da socieda<strong>de</strong> civil. Assim sen<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> falamos<br />

em censura política estamos nos remeten<strong>do</strong> aos vetos aprova<strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong> em vista a lei <strong>de</strong><br />

Segurança Nacional. Já a moral, quan<strong>do</strong> o veto tinha alguma relação com a idéia da<br />

formação da moral cristã brasileira ou da quebra <strong>de</strong> paradigmas comportamentais da<br />

época.<br />

Foi <strong>de</strong>ntro da ESG (Escola Superior <strong>de</strong> Guerra) que se estruturou a <strong>do</strong>utrina <strong>de</strong><br />

segurança nacional e subprodutos como o SNI (Serviço Nacional <strong>de</strong> Informação). O<br />

<strong>de</strong>creto-lei 314 assina<strong>do</strong> em março <strong>de</strong> 1967 <strong>de</strong>finia os crimes contra a segurança<br />

nacional. O artigo 14 dizia que divulgar, por qualquer meio <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, notícias<br />

falsas, ten<strong>de</strong>nciosas ou <strong>de</strong>turpadas, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a pôr em perigo o bom nome, a autorida<strong>de</strong><br />

o crédito ou o prestígio <strong>do</strong> Brasil po<strong>de</strong>ria dar <strong>de</strong>tenção <strong>de</strong> seis meses a <strong>do</strong>is anos. Além<br />

disso, os artigos 38 e 39 faziam direta alusão à questão da propaganda subversiva, nesse<br />

senti<strong>do</strong>, caso o censor achasse conveniente, po<strong>de</strong>ria censurar como subversivo e incluílo<br />

<strong>de</strong>ntro da lei <strong>de</strong> segurança nacional.<br />

Dessa forma, o campo cinematográfico se apresenta como um local privilegia<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> análise posto que foi a expressão artística que contou com forte financiamento estatal<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a criação da Embrafilme, em 1969. Ao mesmo tempo em que os filmes recebiam<br />

financiamento estatal, acabavam sen<strong>do</strong> censura<strong>do</strong>s pelo próprio aparelho <strong>de</strong> esta<strong>do</strong>,<br />

acarretan<strong>do</strong> um <strong>de</strong>sconforto generaliza<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro da própria DCDP.<br />

Para analisar o discurso da DCDP sobre as produções cinematográficas durante<br />

21 Sobre a conceituação <strong>de</strong> táticas e estratégias ver CERTEAU, Michael. A invenção <strong>do</strong> cotidiano: artes<br />

<strong>de</strong> fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. pp. 42-48.

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