Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ
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90<br />
ilícito. 269<br />
De qualquer forma, parte das reivindicações <strong>de</strong> Aloysio foram atendidas e,<br />
através <strong>de</strong> cartas e ofícios, foi travada uma discussão sobre a ina<strong>de</strong>quação <strong>do</strong><br />
financiamento público <strong>de</strong> obras consi<strong>de</strong>radas subversivas. Em setembro <strong>de</strong> 1969, o<br />
diretor geral da polícia <strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong> escreveu para o então Ministro da Justiça, Luiz da Gama<br />
e Silva, dizen<strong>do</strong><br />
subalterno na hierarquia ministerial, mas honrosamente ombrea<strong>do</strong> nos i<strong>de</strong>ais<br />
cívicos que nos sugerem tarefas <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s na preservação <strong>do</strong>s<br />
eleva<strong>do</strong>s conceitos políticos, administrativos, morais e sociais <strong>de</strong> nossa<br />
Pátria, vimos encarecer a Vossa Excelência urgentes medidas junto aos<br />
Exmos. Senhores Ministros das Relações Exteriores e da Fazenda, para<br />
lograrmos êxito no fiel cumprimento <strong>de</strong> nossas missões. (...) O nosso apelo<br />
objetiva estancar a <strong>de</strong>scontrolada evasão <strong>de</strong> filmes nacionais <strong>de</strong>sairosos e<br />
contradizentes da realida<strong>de</strong> brasileira que levam para o exterior impressões<br />
<strong>de</strong>strui<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> solevantamento da pátria em que nos empenhamos. 270<br />
Vale <strong>de</strong>stacar que esta carta foi escrita em 1969, ou seja, pouco tempo <strong>de</strong>pois <strong>do</strong><br />
endurecimento <strong>do</strong> regime com o AI-5 e perío<strong>do</strong> no qual os ânimos estavam extrema<strong>do</strong>s.<br />
De qualquer maneira, a escrita não reafirma nada mais <strong>do</strong> que as idéias presentes na<br />
legislação censória <strong>de</strong> 1946, que, como foi visto, permitia à censura vetar filmes para o<br />
estrangeiro que sugerissem “vistas <strong>de</strong>sprimorosas” <strong>do</strong> país.<br />
A censura <strong>do</strong> cinema possuiu um caráter diferencia<strong>do</strong> em relação às <strong>de</strong>mais<br />
censuras <strong>de</strong> diversões públicas. Em primeiro lugar, havia a Embrafilme. Embora outras<br />
manifestações artístico-culturais contassem eventualmente com verbas e prêmios<br />
forneci<strong>do</strong>s pelo Esta<strong>do</strong>, como o teatro, apenas o cinema teve uma empresa<br />
financia<strong>do</strong>ra. 271<br />
A outra peculiarida<strong>de</strong> <strong>do</strong> campo cinematográfico dizia respeito às diferentes<br />
formas <strong>de</strong> censura aos filmes. Se, no caso da música e das peças teatrais havia a<br />
liberação com cortes ou o veto total, no caso <strong>do</strong> cinema havia uma série <strong>de</strong><br />
especificida<strong>de</strong>s.<br />
A DCDP censurava filmes nacionais, estrangeiros, cartazes <strong>de</strong> filmes, bem como<br />
os trailers que seriam exibi<strong>do</strong>s antes das películas. Além disso, fazia também a censura<br />
<strong>do</strong>s curtas-metragens, tipo <strong>de</strong> produção que foi inclusive incentivada pelo próprio<br />
269 I<strong>de</strong>m<br />
270 AN. Divisão regional <strong>do</strong> Arquivo Nacional no Distrito <strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong>. Fun<strong>do</strong> DCDP. Série: Ofícios <strong>de</strong><br />
solicitação. Ofício n. 477/69. Data<strong>do</strong> <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1969.<br />
271 Sobre o teatro durante a ditadura militar ver: GARCIA, Miliandre. “ou vocês mudam ou acabam”:<br />
teatro e censura na ditadura militar (1964-1985). <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: tese <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> apresentada ao<br />
PPGHIS/<strong>UFRJ</strong>, 2008.