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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

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dias.” 328 Outros pareceres caminhavam na mesma linha da não liberação da obra, que<br />

110<br />

relatório escrito por Carlos Alberto <strong>de</strong> Souza dizia que o filme contrariava frontalmente<br />

todas as <strong>de</strong>terminações <strong>do</strong> artigo 41 <strong>do</strong> <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> n.20493, já que apresentava o<br />

“comportamento <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>sajustadas que [procuravam no sexo] a solução para seus<br />

<strong>de</strong>sencontros. Encerra uma mensagem negativa e <strong>de</strong>formada da realida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s nossos<br />

supostamente feria os dispositivos legais. Além <strong>do</strong> mais, o diretor não havia<br />

em nenhuma das situações (...) [procura<strong>do</strong>] uma sanção reprobatória para o<br />

comportamento negativo <strong>do</strong>s protagonistas. Os problemas focaliza<strong>do</strong>s são<br />

corriqueiros no submun<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sajuste social e não apresentam soluções ten<strong>de</strong>ntes a<br />

saná-los. E bem assim, chocam-se frontalmente com os objetivos nacionais (...) na<br />

parte em que eles tratam <strong>do</strong> zelo que se <strong>de</strong>ve ter para com a família, a socieda<strong>de</strong> e a<br />

boa imagem <strong>do</strong> país, diante <strong>do</strong> conturba<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> atual. 329<br />

O interessante no parecer acima é que nos remete à tradição da época em que as<br />

encenações cênicas eram protagonizadas pelos jesuítas na catequização <strong>do</strong>s indígenas.<br />

Nelas, o arrependimento era o ponto <strong>de</strong> partida para a salvação <strong>do</strong> peca<strong>do</strong>r. 330 Ora, para<br />

o censor, mais <strong>do</strong> que o percurso <strong>do</strong>s personagens, o importante era mostrar o alguma<br />

forma <strong>de</strong> expiação. 331<br />

O terceiro parecer também optou pela não liberação da produção. Redigi<strong>do</strong> por<br />

José Augusto Costa, <strong>de</strong>monstra a preocupação <strong>do</strong> funcionário tanto com a instituição<br />

que representa, como com seu próprio ofício. Embora longo, vale citar um trecho:<br />

Torna-se necessária (...) uma breve explicação para esta nova atitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> censor, para<br />

que a primeira vista não pareça uma atitu<strong>de</strong> leviana, contraditória ou<br />

antiprofissional. Quan<strong>do</strong> libera<strong>do</strong> o filme, estava a censura fe<strong>de</strong>ral com uma<br />

orientação mais liberal e, consequentemente, uma série <strong>de</strong> espetáculos <strong>do</strong> teor <strong>de</strong><br />

Toda nu<strong>de</strong>z será castigada foi anteriormente liberada para o público. Por outro la<strong>do</strong>,<br />

os censores vêm trabalhan<strong>do</strong> até esse momento exclusivamente calca<strong>do</strong>s no seu bom<br />

sen<strong>do</strong> e naquilo que lhes parece estar em afinação com a legislação censória, com o<br />

pensamento da Chefia e <strong>do</strong> Governo (...) a prática <strong>do</strong> dia-a-dia impõe a necessida<strong>de</strong><br />

urgente <strong>de</strong> se estabelecer uma orientação <strong>de</strong>finitiva à ação cesória <strong>de</strong>ntro da <strong>do</strong>utrina<br />

328 AN, coor<strong>de</strong>nação regional <strong>do</strong> Arquivo Nacional no Distrito <strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong>. Fun<strong>do</strong>: Divisão <strong>de</strong> Censura <strong>de</strong><br />

Diversões Públicas. Série: “Censura Prévia”. Sub-série: programação cinematográfica. Processo <strong>do</strong> filme<br />

Toda nu<strong>de</strong>z será castigada. Data 16/11/1972. f. 8.<br />

329 I<strong>de</strong>m.<br />

330 Para esse assunto ver: MAGALDI, Sábato. Panorama <strong>do</strong> teatro brasileiro. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Ministério<br />

da educação e cultura/Funarte/Serviço nacional <strong>do</strong> teatro, s/d. SOUZA, J. Galante. O teatro no Brasil:<br />

evolução <strong>do</strong> teatro no Brasil. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: ministério da Educação e Cultura/<strong>Instituto</strong> Nacional <strong>do</strong><br />

Livro, 1960.<br />

331 Curioso notar que as primeiras formas <strong>de</strong> encenação teatral foram trazidas pelos jesuítas. Nos autos, a<br />

representação <strong>do</strong> caminho certo a tomar ou o arrependimento <strong>do</strong> personagem peca<strong>do</strong>r eram regra. Sobre<br />

esse assunto ver: MAGALDI, Sábato. Panorama <strong>do</strong> teatro brasileiro. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Funarte, s/d. e<br />

SOUSA, J. Galante <strong>de</strong>. O teatro no Brasil. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: <strong>Instituto</strong> Nacional <strong>do</strong> Livro, 1960.

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