23.10.2014 Views

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

28<br />

<strong>do</strong> movimento. No entanto, um <strong>do</strong>s maiores responsáveis pela queda na produção <strong>de</strong><br />

filmes comprometi<strong>do</strong>s com o Cinema Novo foi o custo relativamente alto que as<br />

produções passaram a exigir. Vale lembrar que, em fins <strong>do</strong>s anos 1960, os filmes<br />

passaram a ser produzi<strong>do</strong>s com cor. No entanto, o manifesto apresenta<strong>do</strong> em 1965 por<br />

Glauber Rocha <strong>de</strong>ixou claro que o germe <strong>do</strong> Cinema Novo seria o lega<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> pelo<br />

movimento:<br />

O Cinema Novo não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se efetivamente enquanto permanecer<br />

marginal ao processo econômico e cultural <strong>do</strong> continente latino-americano; além <strong>do</strong><br />

mais, porque o Cinema Novo é um fenômeno <strong>do</strong>s povos novos e não uma entida<strong>de</strong><br />

privilegiada <strong>do</strong> Brasil: on<strong>de</strong> houver um cineasta disposto a filmar a verda<strong>de</strong>, e a<br />

enfrentar os padrões hipócritas e policialescos da censura intelectual, aí haverá um<br />

germe vivo <strong>do</strong> Cinema Novo. On<strong>de</strong> houver um cineasta disposto a enfrentar o<br />

comercialismo, a exploração, a pornografia, o tecnicismo, aí haverá um germe <strong>do</strong><br />

Cinema Novo. On<strong>de</strong> houver um cineasta, <strong>de</strong> qualquer ida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> qualquer<br />

procedência, pronto a pôr seu cinema e as sua profissão a serviço das causas<br />

importantes <strong>do</strong> seu tempo, aí o haverá um germe <strong>do</strong> Cinema Novo. A <strong>de</strong>finição é<br />

esta e por esta <strong>de</strong>finição o Cinema Novo se marginaliza da indústria porque o<br />

compromisso <strong>do</strong> Cinema Industrial é com a mentira e com a exploração. 65<br />

Embora o manifesto tenha um tom <strong>de</strong>nuncista, foi bem aceito pela<br />

intelectualida<strong>de</strong>, pois estava conecta<strong>do</strong> com os movimentos <strong>de</strong> tendências mais<br />

esquerdistas pelo mun<strong>do</strong>. A crítica feita no texto não diz respeito apenas à questão da<br />

estética cinematográfica, mas é também fundamentalmente uma visão politizada sobre a<br />

socieda<strong>de</strong> latino-americana.<br />

Em contraposição aos filmes <strong>do</strong> Cinema Novo surgiu em São Paulo, em fins da<br />

década <strong>de</strong> 1960 e começo <strong>de</strong> 1970, um movimento inova<strong>do</strong>r que levou o público<br />

novamente às salas <strong>de</strong> projeção. Os filmes, oriun<strong>do</strong>s da região paulista conhecida como<br />

“Boca <strong>do</strong> Lixo”, marcaram uma nova estética cinematográfica e ficaram conheci<strong>do</strong>s<br />

como Cinema Marginal. O espaço urbano, nas imediações da Estação da Luz, on<strong>de</strong><br />

estavam localiza<strong>do</strong>s tradicionalmente os escritórios <strong>de</strong> produtores, distribui<strong>do</strong>ras e<br />

diretores, também ficou famoso pelas boates e pela zona <strong>de</strong> meretrício.<br />

O Cinema Marginal originou-se <strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos <strong>do</strong> Cinema Novo, mas com<br />

uma clara crítica ao movimento que o prece<strong>de</strong>u. Os cineastas liga<strong>do</strong>s ao “marginal”<br />

ultrapassaram o significa<strong>do</strong> da experimentação e <strong>de</strong>scambaram para a representação da<br />

marginalida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> amoralismo. 66 O marco funda<strong>do</strong>r foi o filme Bandi<strong>do</strong> da Luz<br />

65 ROCHA, Glauber. Uma estética da fome. Op. cit.<br />

66 Sobre o Cinema Marginal ver, entre outros: RAMOS, Fernão. Cinema Marginal (1968/1973): a<br />

representação em seu limite. São Paulo: Brasiliense, 1987. XAVIER, Ismael. Alegorias <strong>do</strong><br />

sub<strong>de</strong>senvolvimento. Op. cit.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!