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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

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originalida<strong>de</strong> é nossa fome e nossa maior miséria é que esta fome, sen<strong>do</strong> sentida, não<br />

é compreendida. Nós compreen<strong>de</strong>mos esta fome que o europeu e o brasileiro na<br />

maioria não enten<strong>de</strong>u. Para o europeu, é um estranho surrealismo tropical. Para o<br />

brasileiro, é uma vergonha nacional. Ele não come, mas tem vergonha <strong>de</strong> dizer isto;<br />

e, sobretu<strong>do</strong>, não sabe <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vem esta fome. Sabemos nós que fizemos estes filmes<br />

feios e tristes, estes filmes grita<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>sespera<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> nem sempre a razão falou<br />

mais alto, que a fome não será curada pelos planejamentos <strong>de</strong> gabinete e que os<br />

remen<strong>do</strong>s <strong>de</strong> tecnicolor não escon<strong>de</strong>m, mas agravam seus tumores. Assim, somente<br />

uma cultura da fome, minan<strong>do</strong> suas próprias estruturas, po<strong>de</strong> superar-se<br />

qualitativamente: e a mais nobre manifestação cultural da fome é a violência. 62<br />

Embora seja arrisca<strong>do</strong> compor uma cronologia <strong>do</strong> Cinema Novo <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a várias<br />

divergências <strong>de</strong> pensamento, como pu<strong>de</strong>mos notar, uma bem estruturada periodização<br />

<strong>do</strong> movimento po<strong>de</strong> ser encontrada no livro <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r Sidney Leite. Ten<strong>do</strong> a década<br />

<strong>de</strong> 1960 como referência, este autor marca três momentos <strong>do</strong> Cinema Novo. O primeiro<br />

entre os anos <strong>de</strong> 1962 e 1964, perío<strong>do</strong> caracteriza<strong>do</strong> como nacional-crítico, no qual os<br />

filmes buscavam evidências no universo rural da violência, da opressão política e <strong>do</strong><br />

aban<strong>do</strong>no <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

A segunda fase, <strong>de</strong>limitada entre os anos 1965 e 1966, foi marcada pelas lesões<br />

ocorridas com golpe civil-militar <strong>de</strong> 1964. Nesse perío<strong>do</strong>, a estética <strong>do</strong>s filmes mu<strong>do</strong>u e<br />

a imagem <strong>do</strong> campo foi substituída pela da cida<strong>de</strong>. As obras lançadas nesse ínterim<br />

abordaram temáticas majoritariamente políticas. Por fim, a terceira fase aconteceu entre<br />

os anos <strong>de</strong> 1967 e 1969 e foi sublinhada pela crítica <strong>do</strong>s cinemanovistas aos seus<br />

próprios trabalhos. 63<br />

Uma questão importante ao tratar <strong>do</strong> Cinema Novo é o fato <strong>de</strong> que, naquele<br />

momento, houve uma integração mais profícua entre o cinema e outros campos<br />

artísticos, notadamente a música, principalmente com o movimento Tropicalista e com<br />

o teatro, no Centro <strong>de</strong> Cultura Popular (CPC) da UNE. Também é notório que os<br />

cineastas envolvi<strong>do</strong>s com o Cinema Novo tentaram, com Glauber Rocha à frente,<br />

aprofundar a forma <strong>de</strong> pensar a produção cinematográfica, bem como to<strong>do</strong>s os<br />

elementos relaciona<strong>do</strong>s à esfera da criação no universo <strong>do</strong> cinema. Um bom exemplo<br />

sintetiza<strong>do</strong>r da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se pensar uma nova forma <strong>de</strong> criação ficou eterniza<strong>do</strong><br />

na sempre repetida frase <strong>de</strong> Glauber “uma câmara na mão e uma idéia na cabeça”. 64<br />

Embora o Cinema Novo tenha consegui<strong>do</strong> a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> um público mais<br />

intelectualiza<strong>do</strong>, os filmes não foram sucesso <strong>de</strong> bilheteria, o que acelerou a <strong>de</strong>cadência<br />

62 ROCHA, Glauber. Uma estética da fome. Revista Civilização brasileira. Ano. 1. n. 3. Julho <strong>de</strong> 1965.<br />

63 LEITE, Sidney Ferreira. Cinema brasileiro: Op. cit. pp. 98-105.<br />

64 Para saber mais ver: MALAFAIA, Wolney Vianna. De chumbo e <strong>de</strong> ouro: política cultural <strong>de</strong> cinema<br />

em tempos sombrios (1974-1979). Op. cit.

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