Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ
Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ
Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
67<br />
ama<strong>do</strong>rismo na dinâmica da censura policial.<br />
A censura era conhecida da população e durante anos as revistas especializadas<br />
em cinema publicavam os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s filmes que haviam si<strong>do</strong> censura<strong>do</strong>s. 191 Por<br />
exemplo, em 1922, Scena muda imprimiu em suas páginas a estatística sobre as<br />
películas censuradas no ano anterior. Segun<strong>do</strong> a publicação, haviam si<strong>do</strong> vetadas, no<br />
to<strong>do</strong> ou em parte, 923 obras americanas, 169 alemãs, 88 italianas, 73 francesas, 13<br />
brasileiras, 10 filmes dinamarqueses, 9 portugueses, 4 argentinos, 3 ingleses e 3<br />
austríacos. 192<br />
É inegável a prepon<strong>de</strong>rância <strong>do</strong> cinema americano nos anos <strong>de</strong> 1920, como foi<br />
visto no primeiro capítulo. A questão entre a entrada <strong>de</strong> filmes estrangeiros e a produção<br />
nacional sempre esteve presente no <strong>de</strong>bate da construção <strong>de</strong> uma indústria<br />
cinematográfica. Nesse senti<strong>do</strong>, a censura po<strong>de</strong>ria significar tanto uma aliada, ao barrar<br />
filmes estrangeiros, como uma opositora, ao censurar os filmes brasileiros.<br />
Na década <strong>de</strong> 1920 também não faltaram críticas, tanto à censura como aos<br />
censores, muito semelhantes às que seriam feitas no perío<strong>do</strong> da ditadura militar. Sobre a<br />
censura ao filme A carne, dirigi<strong>do</strong> por Felipe Ricci, a coluna da Cinearte dizia, em<br />
1926, que<br />
o filme estava completo e, apesar <strong>de</strong> ser uma obra um tanto escabrosa para ser<br />
levada à tela, em nada ofen<strong>de</strong> a moral, da<strong>do</strong> o critério com que foi adapta<strong>do</strong>.<br />
Ora, sen<strong>do</strong> o filme envia<strong>do</strong> à censura, sofreu cortes sensíveis, porém, cortes<br />
absur<strong>do</strong>s, próprio <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sentendi<strong>do</strong> da matéria. Na cena <strong>do</strong> quarto, em que<br />
Lenita não resistin<strong>do</strong> à tentação vai <strong>de</strong>clarar o seu amor a Barbosa, o censor<br />
cortou quase toda a parte final, ten<strong>do</strong> também leva<strong>do</strong> em prejuízo cena que<br />
tanta explicação dava ao filme. (...) Nós, como dissemos acima, leitores<br />
assíduos <strong>de</strong> Para to<strong>do</strong>s..., e agora <strong>de</strong> Cinearte, temos li<strong>do</strong> freqüentemente<br />
nessa revista casos como o <strong>do</strong> sr. Gigi prejudica<strong>do</strong> por uma censura<br />
<strong>de</strong>claradamente incompetente. 193<br />
Em fins <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo, a polícia encarregada da censura foi transferida para o<br />
Departamento <strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong> <strong>de</strong> Segurança Pública (DFSP) e passou a integrar o Ministério da<br />
Justiça e Negócios Interiores. Em 1945, foi cria<strong>do</strong> o Serviço <strong>de</strong> Censura <strong>de</strong> Diversões<br />
191 As duas principais revistas especializadas em cinema que o Brasil teve até a década <strong>de</strong> 1950 foram<br />
Scena Muda e Cinearte. A Scena muda foi lançada em 1921 e ficou em circulação até o 1955. A Cinearte<br />
foi fundada em 1926 por Mario Behring e Adhemar Gonzaga e foi referência entre as publicações, pois<br />
foi a primeira revista a adaptar-se aos mol<strong>de</strong>s da cinematografia que existia no Brasil. Embora tenha si<strong>do</strong><br />
criada <strong>de</strong>pois da Scena Muda, seu perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> existência foi menor, ten<strong>do</strong> havi<strong>do</strong> publicação até 1942.<br />
Para um maior aprofundamento sobre a revista ver: LUCAS, Taís Campelo. Cinearte: o cinema brasileiro<br />
em revista (1926-1942). <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Tese/PPGHU/UFF, 2005.<br />
192 Scena muda. 16 <strong>de</strong> fev. 1922. p. 30.<br />
193 Cinearte. 31 <strong>de</strong> mar. 1926. p. 28.