Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ
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74<br />
aparelho repressivo implementa<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong>. 221<br />
Estu<strong>do</strong>s recentes procuraram matizar a censura durante o perío<strong>do</strong> militar,<br />
fornecen<strong>do</strong> uma visão diferenciada <strong>do</strong> modus operandi, bem como das motivações que<br />
levaram aos cortes nas produções artísticas. Nesse senti<strong>do</strong>, Carlos Fico, em seus estu<strong>do</strong>s<br />
sobre a censura durante a ditadura, distinguiu nela duas instâncias específicas, uma<br />
política e outra moral. Ou seja, embora a imprensa tenha si<strong>do</strong> alvo privilegia<strong>do</strong> para a<br />
censura marcadamente <strong>de</strong> cunho político, nos meios artísticos ela acontecia pautada em<br />
valores mais liga<strong>do</strong>s à moral e aos bons costumes. 222<br />
Simpatizantes <strong>de</strong>ssa mesma visão sobre a censura, outros trabalhos vêm<br />
<strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> a divisão entre o caráter eminentemente político e o moral da ativida<strong>de</strong><br />
censória no país durante o perío<strong>do</strong> da ditadura militar. Para isso, pesquisa<strong>do</strong>res cada vez<br />
mais têm trabalha<strong>do</strong> com os processos <strong>de</strong> censura que eram produzi<strong>do</strong>s pela DCDP. 223<br />
Para cada obra artística censurada era emiti<strong>do</strong> um parecer e nele po<strong>de</strong>m ser observadas<br />
as motivações para os cortes e os vetos.<br />
Ten<strong>do</strong> por base também essa distinção entre a esfera política e moral que<br />
permeou o trabalho <strong>do</strong>s censores <strong>de</strong> diversões públicas, essa tese se insere no conjunto<br />
<strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s que procuram perceber as distinções entre ambas as censuras<br />
especificamente no âmbito cinematográfico.<br />
Há <strong>do</strong>is trabalhos que abordaram especificamente a censura cinematográfica no<br />
Brasil. O primeiro é o livro Roteiro da intolerância, <strong>do</strong> jornalista Inimá Simões. 224 Nele,<br />
o autor apresenta a censura cinematográfica brasileira <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> cinema no<br />
Brasil até o ano <strong>de</strong> 1988, quan<strong>do</strong> foi promulgada a nova Constituição. É fato que o autor<br />
se <strong>de</strong>dicou mais atentamente ao perío<strong>do</strong> da censura durante o governo militar. Na<br />
introdução, Simões diz que a censura, “com o pretexto <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a moral e os bons<br />
costumes, (...) se dizia em sintonia com a socieda<strong>de</strong>, enquanto, na verda<strong>de</strong>, operava<br />
exclusivamente na preservação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e <strong>de</strong> seus po<strong>de</strong>res.” 225<br />
Embora se possa consi<strong>de</strong>rar em última instância a pretensão da censura em<br />
preservar os po<strong>de</strong>res <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, ela realmente tinha uma preocupação com a moral e<br />
221 FICO, Carlos. Como eles agiam: os subterrâneos da ditadura militar: espionagem e polícia política.<br />
<strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Record, 2001. pp. 168- 180.<br />
222 Ver: I<strong>de</strong>m.<br />
223 Ver por exemplo: MARCELINO, Douglas Attila. Salvan<strong>do</strong> a pátria da pornografia e da subversão: a<br />
censura <strong>de</strong> livros e diversões públicas nos anos 1970. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: PPGHIS/<strong>UFRJ</strong>, 2006. e<br />
CAROCHA, Maika Lois. Pelos versos das canções: estu<strong>do</strong> sobre o funcionamento da censura musical<br />
durante a ditadura militar brasileira (1964- 1985). Dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> em fase <strong>de</strong> elaboração.<br />
224 SIMÕES, Inimá. Roteiro da intolerância. Op.cit.<br />
225 I<strong>de</strong>m. p. 15.