23.10.2014 Views

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

1962. 58 É oportuno lembrar que Nelson Pereira <strong>do</strong>s Santos foi influencia<strong>do</strong><br />

26<br />

excluídas da população nas enormes telas <strong>de</strong> cinema. 57 Conquanto a historiografia<br />

clássica <strong>do</strong> cinema nacional continue a estabelecer os filmes <strong>Rio</strong> 40 graus (1955) e <strong>Rio</strong>,<br />

Zona Norte (1957), ambos <strong>de</strong> Nelson Pereira <strong>do</strong>s Santos, como precursores <strong>do</strong> Cinema<br />

Novo, há um marca<strong>do</strong> distanciamento entre eles e o movimento que eclodiu a partir <strong>de</strong><br />

principalmente pelo movimento <strong>do</strong> neo-realismo italiano 59 que <strong>de</strong>stacou importantes<br />

cineastas (como Vittorio <strong>de</strong> Sica e Roberto Rosseline) ten<strong>do</strong> como uma <strong>de</strong> suas<br />

características o uso <strong>de</strong> cenas da realida<strong>de</strong> popular.<br />

O cineasta Glauber Rocha tentou localizar as origens <strong>do</strong> Cinema Novo em uma<br />

tradição <strong>de</strong> mais longa data. Segun<strong>do</strong> Glauber, o início <strong>do</strong> movimento passou pelos<br />

filmes da década <strong>de</strong> 1930, dirigi<strong>do</strong>s por Humberto Mauro. No entanto, os cineastas<br />

filia<strong>do</strong>s ao grupo <strong>do</strong> Cinema Novo se caracterizavam pela completa ruptura com o<br />

movimento cinematográfico anterior, principalmente no que concerne às chanchadas. 60<br />

Embora possamos apontar a existência <strong>de</strong> filmes que se contrapunham à lógica<br />

merca<strong>do</strong>lógica, como Limite (1931), <strong>de</strong> Mario Peixoto – marco <strong>do</strong> cinema experimental<br />

– i<strong>de</strong>ntificamos cineastas isola<strong>do</strong>s e não um pensamento <strong>de</strong> vanguarda, como ocorreu<br />

com os cinemanovistas. 61<br />

Quem tomou a frente <strong>do</strong> movimento no campo político foi Glauber Rocha, ao<br />

lançar, em 1965, o manifesto intitula<strong>do</strong> Estética da Fome, no qual discutia a forma<br />

como a socieda<strong>de</strong> latino-americana se entendia e era entendida. A fome apresentada por<br />

Glauber era <strong>de</strong> alimento, pois esse era um <strong>do</strong>s temas recorrentes <strong>do</strong> Cinema Novo.<br />

A<strong>de</strong>mais, o manifesto tentou expressar a “fome”, ou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cultura da<br />

socieda<strong>de</strong> latino-americana. Não sem razão o movimento teve ligação com as idéias <strong>de</strong><br />

Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, autor <strong>do</strong> Manifesto Antropofágico, <strong>de</strong> 1928.<br />

Não é somente um sintoma alarmante: é o nervo <strong>de</strong> sua própria socieda<strong>de</strong>. Aí resi<strong>de</strong><br />

a trágica originalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Cinema Novo diante <strong>do</strong> cinema mundial: nossa<br />

57 O filme narra à história <strong>de</strong> cinco garotos <strong>de</strong> uma favela que, num <strong>do</strong>mingo <strong>de</strong> sol na cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong> ven<strong>de</strong>m amen<strong>do</strong>im em Copacabana, no Pão <strong>de</strong> Açúcar e em jogos <strong>de</strong> futebol.<br />

58 Sobre essa discussão ver: NAPOLITANO, Marcos. A arte engajada e seus públicos. In Estu<strong>do</strong>s<br />

históricos. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: n. 28, 2001.<br />

59 FABRIS, Mariarosaria. Nelson Pereira <strong>do</strong>s Santos: um olhar neo-realista? São Paulo: Editora da<br />

<strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> São Paulo, 1994.<br />

60 ROCHA, Glauber. Revisão crítica <strong>do</strong> cinema brasileiro. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Editora civilização brasileira,<br />

1963. pp. 21-34.<br />

61 A Cinemateca Brasileira, em 1988, promoveu uma pesquisa com os principais críticos <strong>do</strong> Brasil, no<br />

qual Limite foi escolhi<strong>do</strong> o melhor filme nacional <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os tempos.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!