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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

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59<br />

cinematográfica. 160 Uma das questões colocadas na or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> dia para os<br />

cinemanovistas foi justamente a tentativa <strong>de</strong> problematizar sua inserção na esfera da<br />

indústria cultural. 161<br />

No entanto, a questão da aceitação ou não da verba <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> estava ligada a<br />

uma idéia muito mais arraigada, <strong>de</strong> tradição francesa, segun<strong>do</strong> a qual o Esta<strong>do</strong> teria a<br />

obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> financiar as obras artísticas sem, contu<strong>do</strong>, controlá-las. Assim, o fato<br />

<strong>de</strong> alguns diretores <strong>do</strong> Cinema Novo posteriormente terem se liga<strong>do</strong> a Embrafilme po<strong>de</strong><br />

ser entendi<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> essa lógica. De fato, a luta (ainda hoje travada) contra os filmes<br />

importa<strong>do</strong>s, notadamente os norte-americanos, o esgotamento <strong>de</strong> uma experiência<br />

estética e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimentos para acompanhar as inovações tecnológicas,<br />

possibilitaram um encontro entre os intelectuais <strong>do</strong> Cinema Novo e as medidas tomadas<br />

pelo regime para o setor cinematográfico. 162 Além das questões expostas, a<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> financiamento para os trabalhos certamente animou os cineastas.<br />

Embora a gestão <strong>de</strong> Roberto Farias na Embrafilme seja conhecida como a mais<br />

frutífera da empresa, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos vários filmes produzi<strong>do</strong>s e também ao enorme sucesso<br />

<strong>de</strong> público que gran<strong>de</strong> parte das películas obteve, não foram poucas as <strong>de</strong>núncias que<br />

rondaram a empresa. Por causa das acusações que pairavam sobre ela, o jornalista Helio<br />

Fernan<strong>de</strong>s publicou uma série <strong>de</strong> reportagens na tentativa <strong>de</strong> fazer com que a empresa<br />

<strong>de</strong>sse os <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s esclarecimentos. As reportagens publicadas dão o tom das<br />

improbida<strong>de</strong>s das quais a Embrafilme era acusada, pois as temáticas eram corrupção,<br />

inoperância, esbanjamento <strong>de</strong> recursos, <strong>de</strong>ntre outras. 163 Embora Helio Fernan<strong>de</strong>s tenha<br />

si<strong>do</strong> mais incisivo nas suas críticas, os jornais da gran<strong>de</strong> imprensa <strong>de</strong>nunciavam a<br />

empresa como produtora <strong>de</strong> filmes pornográficos e também pela suposta corrupção.<br />

Dentre as críticas feitas à Embrafilme durante a década <strong>de</strong> 1980 estava a <strong>de</strong> que<br />

ela só beneficiava os cineastas cariocas. A atitu<strong>de</strong> tomadas pelos cineastas paulistas,<br />

160 Como já foi nota<strong>do</strong> no primeiro capítulo a chanchada consagrou tipos populares e, to<strong>do</strong>s os tipos eram<br />

caricaturais em suas atuações, que eram marcadas pela forçação <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s efeitos cômicos. Ver<br />

essa questão ver por exemplo: VIEIRA, João luiz. A chanchada e o cinema carioca (1930- 1955). IN:<br />

RAMOS, Fernão. (org). História <strong>do</strong> cinema brasileiro. São Paulo: Art editora, 1987. pp.130 - 178.<br />

161 LEITE, Sidney Ferreira. op. cit. p.96.<br />

162 MALAFAIA, Wolney Vianna. O cinema e o Esta<strong>do</strong> na terra <strong>do</strong> sol: a construção <strong>de</strong> uma política<br />

cultural <strong>de</strong> cinema em tempos <strong>de</strong> autoritarismo. In: CAPELATO, Maria Helena [et al]. História e cinema:<br />

dimensões históricas <strong>do</strong> audiovisual. São Paulo: Alameda, 2007. pp.327-328.<br />

163 Os títulos das colunas publicadas por Hélio Fernan<strong>de</strong>s dão a tônica das críticas feitas. Eis as manchetes<br />

<strong>de</strong> algumas matérias: Tribuna da imprensa. 31 <strong>de</strong> out <strong>de</strong> 1978. “As multinacionais e a Embrafilme.”<br />

Tribuna da Imprensa. 10 <strong>de</strong> out <strong>de</strong> 1978. “Corrupção, corrupção, corrupção: dar dinheiro a cineastas<br />

intelectuais <strong>de</strong> esquerda, para que não combatam o governo.”<br />

Tribuna da Imprensa. 16 <strong>de</strong> out. <strong>de</strong> 1978. “A Embrafilme no banco <strong>do</strong>s réus sem advoga<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.”<br />

Tribuna da Imprensa. 14 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z <strong>de</strong> 1978. “A Embrafilme volta pálida e amarelecida.”<br />

Tribuna da Imprensa. 28/29 <strong>de</strong> abr. <strong>de</strong> 1979. “A Embrafilme no banco <strong>do</strong>s réus.”

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