Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ
Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ
Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
76<br />
Segun<strong>do</strong> Carlos Fico, a censura fazia parte <strong>do</strong> aparelho repressivo monta<strong>do</strong><br />
pelos militares. Durante o perío<strong>do</strong> autoritário, o governo criou um aparato estatal<br />
repressivo que congregava a censura à imprensa, a censura <strong>de</strong> diversões públicas, a<br />
espionagem, a polícia política, a propaganda e o julgamento sumário <strong>de</strong> supostos<br />
corruptos pela Comissão Geral <strong>de</strong> Investigações (CGI). 227<br />
Os militares utilizaram to<strong>do</strong> um aparato já existente na questão relativa à censura<br />
<strong>de</strong> diversões públicas e aperfeiçoaram o trabalho com a a<strong>do</strong>ção da centralização, da<br />
contratação <strong>de</strong> técnicos especializa<strong>do</strong>s e cursos periódicos para os funcionários da<br />
DCDP. Então, a censura aplicada às letras musicais, às peças teatrais, ao cinema e à<br />
programação televisiva e radiofônica não significou uma novida<strong>de</strong>. Diferentemente da<br />
censura voltada para a imprensa que possuiu um caráter eminentemente político, a<br />
censura <strong>de</strong> diversões públicas circulou <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma esfera muito mais moral <strong>do</strong> que<br />
política. Dessa forma, não foi recebida como uma gran<strong>de</strong> novida<strong>de</strong> pela socieda<strong>de</strong> civil,<br />
ten<strong>do</strong> em vista que ela acontecia havia décadas.<br />
A censura, mesmo moral, é em si um ato político. Entrementes, quan<strong>do</strong> aqui é<br />
diferenciada a censura moral da censura política procura-se estabelecer uma distinção<br />
<strong>do</strong>s motivos pelos quais os filmes eram censura<strong>do</strong>s. Quan<strong>do</strong> o filme era censura<strong>do</strong> por<br />
mostrar cenas que pu<strong>de</strong>ssem supostamente <strong>de</strong>gradar a moral cristã da socieda<strong>de</strong><br />
brasileira, po<strong>de</strong>mos classificá-la como censura moral. Esse tipo <strong>de</strong> censura foi apoiada<br />
durante muitos anos por setores da socieda<strong>de</strong>, como, por exemplo, na década <strong>de</strong> 1920,<br />
pela Liga pela Moralida<strong>de</strong> ou, durante o regime militar, através <strong>de</strong> cartas <strong>de</strong> parcelas da<br />
população exigin<strong>do</strong> vetos a produções artísticas. 228 A censura política também esteve<br />
presente nas películas cinematográficas durante o regime militar, mas não foi essa sua<br />
tônica. Simplificadamente, classificaremos <strong>de</strong> censura política os casos nos quais o<br />
filme não pô<strong>de</strong> ser exibi<strong>do</strong>, ou teve cenas vetadas, por alegadamente atentar contra a<br />
Segurança Nacional.<br />
música, intitula<strong>do</strong> “Pelos versos das canções: um estu<strong>do</strong> sobre o funcionamento da censura musical<br />
durante o regime militar brasileiro (1964-1985)”. Os resulta<strong>do</strong>s parciais <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> foram gentilmente<br />
cedi<strong>do</strong>s. O livro <strong>de</strong> ARAÚJO, Paulo César <strong>de</strong>. Eu não sou cachorro não: música popular cafona e<br />
ditadura militar. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Record, 2002. faz acreditar que todas as formas <strong>de</strong> censura eram<br />
motivadas por questões políticas. Uma das teses principais da obra é que enquanto a MPB, que era ouvida<br />
mais pela classe média intelectualizada, foi censurada por questões políticas relativas ao sistema vigente,<br />
a música consi<strong>de</strong>rada cafona também foi vetada por motivos políticos, embora ten<strong>do</strong> caráter diferente,<br />
pois os cantores <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> música vinham <strong>de</strong> uma origem social diferenciada.<br />
227 FICO, Carlos. Além <strong>do</strong> golpe: versões e controvérsias sobre o golpe <strong>de</strong> 1964 e a Ditadura Militar. Op.<br />
cit. p. 76.<br />
228 A esse respeito ver artigo <strong>de</strong>: FICO, Carlos. “Prezada censura”: cartas ao regime militar. In: Topoi:<br />
Revista <strong>de</strong> História. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em História Social da <strong>UFRJ</strong> / 7 Letras,<br />
set. 2002, n. 5, pp. 251 -283.