23.10.2014 Views

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

83<br />

chefe da DCDP livrasse das restrições alguns filmes, o autor da carta mostrou-se<br />

absolutamente conhece<strong>do</strong>r da política da censura e dizia que a liberação <strong>do</strong>s filmes que<br />

continham cenas <strong>de</strong> sexo<br />

começou com o filme Império <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s e pelo que li nos jornais, to<strong>do</strong>s nos<br />

que gostamos <strong>de</strong>ste gênero <strong>de</strong> filmes ficamos agra<strong>de</strong>ci<strong>do</strong>s ao filho <strong>do</strong> Ministro<br />

Abi Ackel, que o estava assistin<strong>do</strong> sorrateiramente aí em Brasília e foi pego<br />

em flagrante, ten<strong>do</strong> a notícia se espalha<strong>do</strong> rápi<strong>do</strong> por to<strong>do</strong> o país; sen<strong>do</strong> esse<br />

fato praticamente o gera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> filme ter si<strong>do</strong> libera<strong>do</strong>. De lá para cá houve<br />

mais um estrangeiro, que foi o horrível Calígula e <strong>do</strong>is ótimos nacionais que<br />

foram Coisas Eróticas e A fome <strong>do</strong> sexo. Sabe Sra. Solange, assisti a cada um<br />

<strong>de</strong>les mais ou menos umas <strong>de</strong>z vezes cada. Este último chama<strong>do</strong> O Cassino<br />

das bacanais libera<strong>do</strong> pela Sra. Está muito corta<strong>do</strong> e não vale a pena a gente<br />

ver. 247<br />

Po<strong>de</strong>-se perceber que o autor da carta expõe justamente o fato <strong>de</strong> filmes<br />

estrangeiros terem mais dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> serem exibi<strong>do</strong>s, enquanto os nacionais, mesmo<br />

que absolutamente corta<strong>do</strong>s, acabavam sen<strong>do</strong> libera<strong>do</strong>s. Vale lembrar que o Império <strong>do</strong>s<br />

Senti<strong>do</strong>s foi produzi<strong>do</strong> em 1976, e só foi libera<strong>do</strong> na década <strong>de</strong> 1980. A questão da<br />

leniência com os filmes nacionais era percebida mesmo por especta<strong>do</strong>res mais atentos a<br />

dinâmica da censura fe<strong>de</strong>ral.<br />

As cartas pesquisadas referem-se apenas as questões cinematográficas e esse é<br />

um <strong>do</strong>s poucos exemplos que mostra um pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> filmes. No entanto,<br />

quan<strong>do</strong> se analisa o conjunto total <strong>de</strong> correspondências, percebe-se que houve sempre<br />

uma constante negociação entre a DCDP e outros órgãos como, por exemplo, a Globo,<br />

que procurou manter cordial relação com o organismo, mas ao mesmo tempo pedia mais<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão. 248<br />

Para além da questão da moral stricto sensu, outra razão para o envio <strong>de</strong> cartas<br />

eram as questões religiosas. Um <strong>do</strong>s casos mais notório <strong>de</strong> censura <strong>de</strong>u-se no governo<br />

Sarney, após o término da ditadura. O filme Je Vous Salue, Marie, <strong>do</strong> diretor francês<br />

Jean-Luc Godard, foi motivo para uma enxurrada <strong>de</strong> cartas pedin<strong>do</strong> a proibição da<br />

película no país. A versão contemporânea para a concepção da virgem Maria oferecida<br />

pelo diretor foi consi<strong>de</strong>rada uma afronta às crenças da igreja católica.<br />

Dessa forma, entida<strong>de</strong>s como o Centro Bíblico Paulista e várias pessoas ligadas<br />

à tradição católica enviaram correspondências pedin<strong>do</strong> a proibição <strong>do</strong> filme no país.<br />

Além das cartas, telefonemas também eram da<strong>do</strong>s no sentin<strong>do</strong> <strong>de</strong> pressionar o órgão, tal<br />

247 I<strong>de</strong>m.<br />

248 Ver: FICO, Carlos. “Prezada censura”: cartas ao regime militar. In: Topoi. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong> <strong>Janeiro</strong>: PPGHIS/7<br />

Letras, 2002. n 5. p. 264.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!