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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

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29<br />

Vermelha, <strong>de</strong> 1968, <strong>do</strong> diretor Rogério Sganzerla. 67 O Cinema Marginal não contou<br />

com uma coesão interna, não sen<strong>do</strong>, portanto, reconheci<strong>do</strong> como um grupo. As<br />

produções foram marcadas pelo baixo custo e por inova<strong>do</strong>ras formas <strong>de</strong> trabalhar um<br />

filme, que sublinhou uma nova possibilida<strong>de</strong> estética frente ao Cinema Novo e se<br />

diferenciou também <strong>do</strong>s padrões das clássicas chanchadas.<br />

Sem dúvida o filme que inaugura o Cinema Marginal tem um mote claramente<br />

político. A obra cinematográfica teve o mérito <strong>de</strong> ser produzida em 1968, justamente<br />

quan<strong>do</strong> houve um endurecimento <strong>do</strong> regime. A frase <strong>de</strong> Jorginho, personagem principal<br />

<strong>do</strong> filme, dá o tom <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong>: “quan<strong>do</strong> a gente não po<strong>de</strong> fazer nada, a gente<br />

avacalha e se esculhamba.”<br />

Essa obra foi semente para o nascimento <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> filmes classifica<strong>do</strong>s<br />

como marginais ou também chama<strong>do</strong>s <strong>de</strong> cinema <strong>de</strong> invenção. As novas possibilida<strong>de</strong>s<br />

foram aproveitadas por outra vertente <strong>de</strong> cineastas que produziram obras com conteú<strong>do</strong><br />

erótico. 68<br />

Assim, se o primeiro movimento <strong>do</strong>s marginais percorreu a via <strong>do</strong> <strong>de</strong>boche e da<br />

contracultura, ele ficaram posteriormente marca<strong>do</strong>s pela produção que se <strong>de</strong>senvolveu<br />

em São Paulo. Os filmes da Boca <strong>do</strong> Lixo tinham como temáticas recorrentes o<br />

adultério, a homossexualida<strong>de</strong>, o tráfico <strong>de</strong> drogas, a bissexualida<strong>de</strong>, as taras sexuais e a<br />

violência. O tipo <strong>de</strong> filme emblemático foi a comédia erótica, conhecida como<br />

pornochanchada. A produção aliava a comédia <strong>de</strong> costumes, característica das<br />

chanchadas <strong>do</strong>s anos 1950, com picardia e erotismo, temperos básicos <strong>do</strong>s filmes<br />

originários da Boca <strong>do</strong> Lixo. De fato, a expressão pornochanchada reuniu um amplo<br />

conjunto <strong>de</strong> filmes bastante diversifica<strong>do</strong>s, que tinham como temática principal a<br />

lubricida<strong>de</strong>. 69<br />

Vale notar que o impulso para que a Boca <strong>do</strong> Lixo produzisse filmes com teor<br />

erótico veio <strong>do</strong> sucesso alcança<strong>do</strong> por duas comédias cariocas: Os paqueras (1969) e<br />

Memórias <strong>de</strong> um gigolô. 70<br />

A pornochanchada serviu como uma escola para o cinema nacional e dividia-se<br />

67 Sobre o impacto <strong>de</strong>ste filme é interessante o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Lucia Murat em: MURAT, Lúcia.<br />

Depoimento: cinema e história. In 1964- 2004: 40 anos <strong>do</strong> golpe: ditadura e resistência no Brasil. <strong>Rio</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Janeiro</strong>: 7letras, 2004. pp. 389-394.<br />

68 ABREU, Nuno Cesar. Boca <strong>do</strong> lixo: cinema e classes populares. Campinas: Editora da Unicamp, 2006.<br />

pp. 37-40.<br />

69 ABREU, Nuno César. Verbete: pornochanchada. In RAMOS, Fernão e MIRANDA, Luiz Felipe. (org)<br />

Enciclopédia <strong>do</strong> cinema brasileiro. São Paulo: SENAC, 2000. pp. 431-433.<br />

70 ABREU, Nuno Cesar. Boca <strong>do</strong> lixo: cinema e classes populares. Campinas: editora da UNICAMP,<br />

2006. p. 43.

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