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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Filosofia ... - UFRJ

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em 1979, e a segunda a atuação da justiça na liberação <strong>de</strong> alguns filmes durante a<br />

década <strong>de</strong> 1980. 348<br />

Na verda<strong>de</strong>, ao contrário <strong>do</strong> que se costumava pensar na época, o que acontecia<br />

não era uma liberalida<strong>de</strong> maior da DCDP em relação aos filmes, mas a criação <strong>de</strong> uma<br />

instância recursal, o CSC, e a atuação <strong>de</strong> alguns juízes permitin<strong>do</strong> a exibição <strong>de</strong> filmes.<br />

Segun<strong>do</strong> o jornal O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> S., “um só juiz da antiga 1 a Vara <strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

(...) conce<strong>de</strong>u nos últimos meses 42 liberações a filmes pornográficos originalmente<br />

veta<strong>do</strong>s pela DCDP.” 349<br />

O que acontecia era que, após o filme ter si<strong>do</strong> censura<strong>do</strong> pela DCDP, o produtor<br />

entrava na justiça com a intenção <strong>de</strong> garantir a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> sua obra<br />

artística. Tais ações aconteceram apenas no final <strong>do</strong>s anos 1970 evi<strong>de</strong>ntemente porque o<br />

contexto da abertura permitia que os juízes agissem com alguma in<strong>de</strong>pendência.<br />

A motivação <strong>do</strong> juiz para liberar o filme Calígula não estava no mérito da obra<br />

em si, mas na ilegalida<strong>de</strong> da tramitação, subterfúgio que, afinal, permitia a atuação<br />

ousada <strong>de</strong>sses juízes.<br />

O advoga<strong>do</strong> da Paris Filmes, Célio Rodrigues Pereira, argumentou que a<br />

censura não obe<strong>de</strong>ceu ao Parágrafo 3 <strong>do</strong> artigo 8 da Lei 5536/68, que fixa<br />

um prazo <strong>de</strong> 20 dias para o Serviço <strong>de</strong> Censura e Diversões Públicas, órgão<br />

da Polícia <strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong>, emitir certifica<strong>do</strong> para filmes. Segun<strong>do</strong> a Lei, se não<br />

houver manifestação da Censura ou <strong>do</strong> diretor-geral da Polícia <strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong>, a<br />

obra fica liberada com proibição até 16 anos. 350<br />

Entretanto, alguns dias <strong>de</strong>pois, um mandato <strong>de</strong> segurança impediu que o filme<br />

fosse exibi<strong>do</strong> em salas comerciais até a <strong>de</strong>cisão final da pendência judicial. 351<br />

Mesmo após a criação <strong>do</strong> CSC, seu pleno funcionamento foi repleto <strong>de</strong><br />

discussões e mal-entendi<strong>do</strong>s. Em 1982 a distribui<strong>do</strong>ra Artenova entrou com manda<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

segurança no Tribunal <strong>Fe<strong>de</strong>ral</strong> <strong>de</strong> Recursos (TFR) solicitan<strong>do</strong> que os filmes Império <strong>do</strong>s<br />

Senti<strong>do</strong>s 2 e Contos imorais fossem libera<strong>do</strong>s. Os filmes haviam da<strong>do</strong> entrada na DCDP<br />

e tiveram sua exibição proibida no Brasil. Os produtores recorreram ao CSC, que<br />

liberou as películas, mas o ministro da Justiça baixou portaria interditan<strong>do</strong> novamente<br />

os filmes. O TFR <strong>de</strong>cidiu que o CSC <strong>de</strong>veria ser obe<strong>de</strong>ci<strong>do</strong>, já que não era um órgão<br />

consultivo, “como o consi<strong>de</strong>rava o ministro da Justiça, Ibraim Abi Ackel.”<br />

348 O Conselho Superior <strong>de</strong> Censura foi trabalha<strong>do</strong> no terceiro capítulo. Sobre o CSC ver: ALBIN,<br />

Ricar<strong>do</strong> Cravo. Driblan<strong>do</strong> a censura. Op. cit.<br />

349 O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo. 10 <strong>de</strong> ago. <strong>de</strong> 1984. “Cinema Pornô, juiz conce<strong>de</strong>u 42 liberações.”<br />

350 Jornal <strong>do</strong> Brasil. 30 set. <strong>de</strong> 1982.<br />

351 O Dia. 21 <strong>de</strong> out <strong>de</strong> 1982.

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