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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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An<strong>de</strong>rson Braga Horta<br />

Astrovaseador<strong>de</strong>amor<br />

A beleza i<strong>de</strong>ativa e musical, bem como o acabado torneamento das trovas <strong>de</strong><br />

“Presságios”, <strong>de</strong>ixaram-mas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras leituras, feitas ainda em meus primórdios<br />

poéticos, íntegras e <strong>de</strong>stacadas na memória. Lembrando-as, afiguravam-se-me<br />

como que engastadas no poema; como se tivessem surgido in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

e só <strong>de</strong>pois aproveitadas no contexto <strong>de</strong>le. Isso me sugeriu divagações acerca<br />

<strong>de</strong> uma tristeza “literária”, falsa tristeza manhosa, visceralmente romântica,<br />

<strong>de</strong>ngosa e sonsa, dissimulada aplicação da filosofia do chorar-para-mamar...<br />

A releitura, agora, mostra que me enganava. Conforme vimos, o autor não<br />

cogita <strong>de</strong> diferençar, linguística ou estilisticamente, da palavra do poeta-narrador<br />

as falas do protagonista. Assim, as trovas, aqui ou alhures, no poema, são<br />

<strong>de</strong> Juca, não <strong>de</strong> Menotti...<br />

Isso, porém, não invalida <strong>de</strong> todo aquelas divagações. Não pertinentes a Juca<br />

Mulato, a não ser na medida pessoana em que todo poeta é um fingidor, sê-lo-ão,<br />

todavia, a outros poetas chorões, propensos a um estado <strong>de</strong> espírito melancólico não<br />

necessariamente fundado em motivo real <strong>de</strong> pa<strong>de</strong>cimento ou <strong>de</strong>silusão amorosa.<br />

Observações finais<br />

Convergem no poema os três estilos poéticos dominantes no Brasil <strong>de</strong> meados<br />

do século XIX a inícios do XX.<br />

Apesar da proximida<strong>de</strong> cronológica e <strong>de</strong> algumas opiniões em tal sentido,<br />

em nada antecipa a ruptura mo<strong>de</strong>rnista.<br />

A linguagem é conservadora, o mesmo po<strong>de</strong>ndo-se dizer da versificação.<br />

Nada disso diminui o valor da composição, uma das mais fascinantes realizações<br />

da lírica nacional (embora narrativo, o poema é <strong>de</strong> natureza lírica) no<br />

período imediatamente anterior à instalação do Mo<strong>de</strong>rnismo.<br />

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