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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Arnaldo Niskier<br />

plantão, <strong>de</strong> quem os outros esperavam o julgamento dos livros e artigos que<br />

saíam, porque era o mais sensato e eclético nas leituras, além <strong>de</strong> ser o crítico<br />

profissional do Diário <strong>de</strong> Notícias.<br />

Na política<br />

Nos primeiros anos <strong>de</strong> vida literária, Rachel <strong>de</strong> Queiroz assumira uma posição<br />

<strong>de</strong> ativista política, como Jorge Amado, que <strong>de</strong> início i<strong>de</strong>ntificou-se pessoalmente<br />

com a luta partidária, com a militância comunista. Alguns críticos<br />

consi<strong>de</strong>ram surpreen<strong>de</strong>nte, no caso <strong>de</strong> Rachel, “nessa escritora <strong>de</strong> esquerda”,<br />

sua mudança i<strong>de</strong>ológica. Logo que chegou ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> residiu <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1939, os esquerdistas exultaram com a presença da escritora “com intuitos<br />

revolucionários” na capital. Rachel há <strong>de</strong> ter sido aconselhada, pela intervenção<br />

<strong>de</strong> conterrâneos e parentes, a retirar-se da luta. Des<strong>de</strong> que rompeu com o<br />

Partido Comunista, em 1932, Rachel manteve distância dos militantes das<br />

gran<strong>de</strong>s causas sociais. Mas nunca abandonou sua vocação política, nunca<br />

<strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser uma escritora <strong>de</strong> participação.<br />

É esclarecedor o comentário <strong>de</strong> Adonias Filho, na saudação à nossa primeira<br />

acadêmica:<br />

“Rachel <strong>de</strong> Queiroz é, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia, uma participante. E sempre<br />

teve o interesse flagrante pela criatura como parte da humanida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> um<br />

povo. Esse interesse revela-se também na tradutora <strong>de</strong> autores como<br />

Dostoievski e Emily Brontë”.<br />

É certamente por isso que, como escritora, ela foi incapaz <strong>de</strong> criar literariamente<br />

fora da participação. A sua inspiração “está no gran<strong>de</strong> encontro com as<br />

criaturas, os seres e as coisas e, por isso mesmo, frente às realida<strong>de</strong>s imediatas”.<br />

Mas liga-se também à tradição cultural da literatura constituída em torno dos<br />

gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>bates éticos e dos gran<strong>de</strong>s combates morais. É por este caminho que<br />

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