Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Gilberto Mendonça Teles<br />
cli<strong>de</strong>s da Cunha impressionou – porque era <strong>de</strong> fato impressionante – muitos<br />
espíritos” regionalistas (p. 184). Dois anos <strong>de</strong>pois AFRÂNIO COUTINHO, que<br />
tanto publicou e tanto se empenhou na divulgação da literatura brasileira, não<br />
foi, infelizmente, um bom crítico nem um bom historiador, no melhor sentido<br />
<strong>de</strong>ste termo. Soube muito bem organizar bibliografias e antologias <strong>de</strong> textos<br />
crítico, como Os Caminhos do Pensamento Crítico (1972), que seguiu o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
José A<strong>de</strong>raldo Castello em Textos que Interessam a História do Romantismo (1960).<br />
Mas, quando quis analisar as obras, faltou-lhe imaginação crítica, no sentido<br />
que Roland Barthes dá a esta frase. Não é, pois, <strong>de</strong> admirar que a sua crítica<br />
seja a dos chavões, como o dizer que Eucli<strong>de</strong>s da Cunha “canalizou toda essa<br />
tradição em favor da valorização do racional na literatura”, como se lê na p.<br />
236 <strong>de</strong> Introdução à Literatura no Brasil. Ou, como na p. seguinte: “Com Os Sertões<br />
romperam-se todas as barreiras à plena afirmação do nativismo brasileiro”. Na<br />
p. 43 já havia falado no “estilo caboclo” <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s da Cunha. Mas a sua<br />
gran<strong>de</strong> preocupação, tal como a <strong>de</strong> Afrânio Peixoto, foi a <strong>de</strong> exaltar Os Sertões,<br />
<strong>de</strong> achar que a sua afirmação <strong>de</strong> crítico baiano garantiria um lugar <strong>de</strong> glória<br />
para o livro <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o classificasse entre as epopeias, uma vez<br />
que já havia a metáfora hiperbólica “epopeia <strong>de</strong> Canudos”. Afrânio Coutinho<br />
não teve dúvida: numa antologia feita às pressas, mas com o bonito título <strong>de</strong> As<br />
Formas da Literatura <strong>Brasileira</strong> (1984), colocou Os Sertões ao lado <strong>de</strong> Os Lusíadas,do<br />
Uraguai edoCaramuru, formas épicas da literatura <strong>de</strong> língua portuguesa. Para<br />
Afrânio não importavam estruturas e natureza <strong>de</strong> linguagem, o que contava era<br />
a sua intenção <strong>de</strong> celebrar a obra, já que o assunto do livro era baiano...<br />
ANTONIO CANDIDO diz pouco, mas afinal diz muito sobre o livro <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s<br />
da Cunha. Se na sua Formação da Literatura <strong>Brasileira</strong>, <strong>de</strong> 1959, realmente<br />
não diz nada, uma vez que a sua formação termina em 1860, é no seu excelente<br />
Literatura e Socieda<strong>de</strong> (1967) que aparece, na p. 156, o pensamento bastante citado<br />
pelos estudiosos:<br />
“Toda essa onda vem quebrar em Os Sertões, típico exemplar da fusão<br />
bem brasileira <strong>de</strong> ciência mal digerida, ênfase oratória e intuições fulguran-<br />
202