Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Gilberto Mendonça Teles<br />
Na sua recente História da Literatura <strong>Brasileira</strong> (1997), LUCIANA STEGAGNO<br />
PICCHIO sabe fazer observações velhas ficarem novas, como neste resumo<br />
novo <strong>de</strong> tudo o que se disse sobre o famoso livro:<br />
“Incluir Eucli<strong>de</strong>s da Cunha entre os narradores regionalistas e ‘sertanejos’<br />
não teria sentido se Os Sertões, além <strong>de</strong> ser um documento histórico, uma epopeia<br />
negativa, uma <strong>de</strong>núncia, um panfleto gigantesco e impiedoso, ‘uma obra<br />
<strong>de</strong> ciência escrita como uma obra <strong>de</strong> arte’, não se tivesse instituído no tempo,<br />
a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> sua precisa intencionalida<strong>de</strong> política e social, como mo<strong>de</strong>lo estilístico<br />
<strong>de</strong> toda a posterior literatura ‘regionalista’” (p. 400).<br />
A simples adjetivação, como esta <strong>de</strong> “epopeia negativa”, traz brilho ao texto<br />
crítico e nova maneira <strong>de</strong> conceber a metáfora da “epopeia”. Veja a beleza da<br />
imagem do engenheiro que constrói a ponte e, ao mesmo tempo, escreve Os<br />
Sertões: “a lançar uma dupla ponte, a real, entre uma margem e a outra do rio, e a<br />
literária, entre os dois Brasis, da costa e do sertão, entre a Rua do Ouvidor, coração<br />
do Rio <strong>de</strong> Janeiro, e a caatinga” (p. 400).<br />
JOSÉ ADERALDO CASTELLO, emA Literatura <strong>Brasileira</strong>: Origem e Unida<strong>de</strong><br />
[1999], em dois volumes, tem uma visão crítica perfeita sobre a importância<br />
do livro <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s da Cunha como obra-síntese, para qual convergem as forças<br />
culturais:<br />
“Os Sertões é duplamente síntese: síntese interna das observações já acumuladas<br />
sobre nossas diversida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>sníveis <strong>de</strong> contrastes, e do seu enfoque<br />
pelo pensamento da época alimentado <strong>de</strong> fora para <strong>de</strong>ntro. Essa dupla<br />
filiação lhe possibilitaria, a partir <strong>de</strong> um fenômeno <strong>de</strong>terminado em<br />
distinto contexto regional, alargar-se numa visão totalizadora do Brasil,<br />
para caracterizar a sua fisionomia, que já <strong>de</strong> longa data vinha sendo <strong>de</strong>lineada,<br />
e chamar à responsabilida<strong>de</strong> a consciência política e intelectual da<br />
nação” (p. 413).<br />
206