03.01.2015 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O luar e o lugar dos sertões<br />

tes. Livro posto entre a literatura e a sociologia naturalista, Os Sertões assinalam<br />

um fim e um começo: o fim do imperialismo literário, o começo da<br />

análise científica aplicada aos aspectos mais importantes da socieda<strong>de</strong> brasileira<br />

(no caso, as contradições contidas na diferença <strong>de</strong> cultura entre as regiões<br />

litorâneas e o interior)”.<br />

O gran<strong>de</strong> crítico vê Os Sertões como uma obra-síntese, ponto <strong>de</strong> chegada e <strong>de</strong><br />

partida; percebe muito bem o nosso exibicionismo intelectual (como no caso<br />

<strong>de</strong> Tobias Barreto, por exemplo); sente a natureza dúbia da linguagem do livro,<br />

entre a “literatura e a sociologia”, e capta com segurança as mudanças que<br />

ocorrerão no estudo da literatura brasileira. Não repetiu os conceitos chapados<br />

dos historiadores e procurou construir elegantemente o seu <strong>de</strong>poimento.<br />

Não é o que ocorre na História da Literatura <strong>Brasileira</strong>, <strong>de</strong> Antônio Soares Amora,<br />

<strong>de</strong> 1958, que sintetiza, parece, muitas das opiniões já emitidas, como a <strong>de</strong> bater<br />

na tecla da literatura e da arte, isto é, ver Os Sertões mais como obra literária.<br />

É o que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>duzir <strong>de</strong> trechos como este:<br />

“A essa concepção tipicamente euclidiana [a <strong>de</strong> ser vista também como<br />

ciência social] correspon<strong>de</strong>u superior capacida<strong>de</strong> artística, não apenas para<br />

a pintura das figuras humanas, das coisas e da natureza [...], mas também<br />

para a intensa dramatização das cenas, ora em termos épicos, ora em termos<br />

trágicos” (p. 185).<br />

Na sua História da Inteligência <strong>Brasileira</strong> [vol. V, 1978], WILSON MARTINS se<br />

<strong>de</strong>dica bastante à obra <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s da Cunha, ao longo <strong>de</strong> várias páginas. Selecionamos<br />

a p. 270, on<strong>de</strong> se encontram informações curiosas, como a dos<br />

sábios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro que concluíram que Os<br />

Sertões eram uma “epopeia” e não uma obra histórica; para o sério crítico João<br />

Ribeiro o livro não passava <strong>de</strong> um “romance”. Mas Wilson Martins faz convergir<br />

para a linguagem toda a importância do livro <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s, como se po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>duzir do trecho abaixo, on<strong>de</strong> se fala, não sei se com ironia, da “vitória da literatura”,<br />

tanto que muitos termos <strong>de</strong> sua crítica provêm da literatura:<br />

203

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!