Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Machado <strong>de</strong> Assis e a peça Forca por Forca<br />
<strong>de</strong>rno teatro europeu, sobretudo francês, sem <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhar o autor nacional. Machado<br />
costumava chamá-lo <strong>de</strong> “querido Ginásio”.<br />
A profissionalização do jovem escritor se concretizou com a sua aproximação<br />
com Furtado Coelho, para cuja companhia traduziu, a partir <strong>de</strong> 1865, pelo menos<br />
cinco peças, escolhidas a <strong>de</strong>do pelo empresário e que fizeram sucesso na Corte,<br />
com exceção <strong>de</strong> O Barbeiro <strong>de</strong> Sevilha, um dos gran<strong>de</strong>s fracassos da companhia.<br />
A primeira <strong>de</strong>las, Suplício <strong>de</strong> uma Mulher, o polêmico drama <strong>de</strong> Émile <strong>de</strong> Girardin<br />
e Alexandre Dumas Filho, causou alguma dor <strong>de</strong> cabeça a Machado, acusado<br />
pelo crítico do Jornal do Commercio <strong>de</strong> se promover através da tradução <strong>de</strong><br />
uma peça imoral. A <strong>de</strong>núncia feriu-o. Era como se ele, por dinheiro, traísse o<br />
i<strong>de</strong>al que <strong>de</strong>fendia e apregoava: o da missão do teatro como veículo <strong>de</strong> educação<br />
do povo. A resposta ao colega foi irônica, incisiva e um tanto soberba.<br />
Superado esse breve entrevero, Machado continuou traduzindo para o amigo<br />
peças <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> repercussão popular, como O Anjo da Meia-Noite, A Família<br />
Benoiton, Como Elas São Todas.<br />
É possível, mas trata-se apenas <strong>de</strong> uma hipótese, que Machado tenha traduzido<br />
para a companhia <strong>de</strong> Furtado Coelho o drama Tributos da Mocida<strong>de</strong>, cujo<br />
manuscrito encontra-se na Biblioteca Nacional. Ignoramos se foi encenada,<br />
sendo a sua tradução efetuada em data in<strong>de</strong>terminada, não antes <strong>de</strong> 1859 ou<br />
início <strong>de</strong> 1860, já que a peça <strong>de</strong> Léon Gozlan foi lançada na França em 1858.<br />
A quinta e última tradução teatral <strong>de</strong> Machado para o empresário português foi<br />
Forca por Forca, revelada por Jean-Michel Massa em Três Peças Francesas Traduzidas por<br />
Machado <strong>de</strong> Assis (Belo Horizonte, Crisálida, 2009). O machadiano francês admite<br />
ignorar se o drama <strong>de</strong> Julles Barbier foi encenado, “mas o manuscrito da tradução<br />
mostra no texto uma preparação para a representação, indicações para os papéis,<br />
numerosos cortes para tornar ainda mais leve o texto francês <strong>de</strong> base”. 1<br />
Em nossas pesquisas, <strong>de</strong>scobrimos que Forca por Forca (Maxwel, no original)<br />
foi representada pela companhia <strong>de</strong> Furtado Coelho, constituindo um razoável<br />
êxito <strong>de</strong> público, <strong>de</strong>ntro das limitações da época. A peça estreou no Teatro<br />
1 Jean-Michel Massa (organizador). Três Peças Francesas Traduzidas por Machado <strong>de</strong> Assis. Belo Horizonte,<br />
Crisálida, 2009, p. 182.<br />
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