Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Gilberto Mendonça Teles<br />
parte perecível <strong>de</strong> sua obra. Na mesma página escreve: “E é curioso notar que a<br />
inverda<strong>de</strong> da forma correspon<strong>de</strong> quase sempre a uma inverda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conteúdo”,<br />
como no estudo sobre a Terra e o Homem, “on<strong>de</strong> acolheu conceitos e preconceitos<br />
da ciência”. Escreve ainda: “O falso <strong>de</strong> sua botânica, da sua antropologia,<br />
da sua sociologia encontra paralelo, em cada caso, no falso da sua linguagem”.<br />
Quando narra os episódios, as peripécias é melhor do que a introdução<br />
científica. O pensamento rigoroso <strong>de</strong> Nelson Werneck Sodré ajudou a <strong>de</strong>sviar<br />
o tom laudatório da crítica em torno <strong>de</strong> Os Sertões, obrigando-a a se <strong>de</strong>bruçar<br />
mais energicamente sobre o livro <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s da Cunha.<br />
Outravisãocríticaéa<strong>de</strong>BEZERRA DE FREITAS, na sua notável História da<br />
Literatura <strong>Brasileira</strong>, editada em 1939. Começa por dizer que “Eucli<strong>de</strong>s da Cunha<br />
[...] <strong>de</strong>dicou-se à sociologiaeàhistória.OautordosSertões e<strong>de</strong>Contrastes<br />
e Confrontos possuía, na realida<strong>de</strong>, o culto da linguagem, o que não significa<br />
fanatismo <strong>de</strong> vocábulo” (p. 251). E na página seguinte diz que foi Eucli<strong>de</strong>s o<br />
primeiro a ver a “realida<strong>de</strong> do conjunto, a tragédia do homem <strong>de</strong>rrotado<br />
pelo meio”. E acrescenta, <strong>de</strong> maneira cortante:<br />
“Desprezando os preconceitos e orientando-se pelo critério rigorosamente<br />
científico, incompatível com as sugestões do Romantismo, Eucli<strong>de</strong>s<br />
da Cunha <strong>de</strong>nunciou o nosso imenso atraso social, e, assim, à nossa<br />
concepção lírica das cousas suce<strong>de</strong>u uma interpretação realista do homem<br />
e da terra.”<br />
É fácil perceber que Bezerra <strong>de</strong> Freitas se volta para a obra, procurando<br />
compreendê-la nas suas estruturas <strong>de</strong> linguagem e <strong>de</strong> conteúdo, relacionando-a<br />
com o contexto cultural brasileiro.<br />
Na mesma linha <strong>de</strong> serieda<strong>de</strong> e contenção verbal é a obra <strong>de</strong> JOSÉ OSÓRIO<br />
DE OLIVEIRA, História Breve da Literatura <strong>Brasileira</strong>, <strong>de</strong> 1939, on<strong>de</strong> diz corretamente<br />
que,<br />
200