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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Gilberto Mendonça Teles<br />

Os Sertões, para Bezerra <strong>de</strong> Freitas, são um livro-síntese e, para Antonio Candido,<br />

o fim <strong>de</strong> uma era literária e o começo dos estudos científicos sobre o Brasil.<br />

Já o Gran<strong>de</strong> Sertão: Veredas, escrito 54 anos <strong>de</strong>pois, assinala o fim <strong>de</strong> uma narrativa<br />

realista, que teve o seu apogeu com Graciliano Ramos, e o começo <strong>de</strong> uma nova<br />

maneira <strong>de</strong> narrar, com o imaginário em aberto para todas as formas <strong>de</strong> ficção,<br />

erudita e popular. Na obra <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s da Cunha o sertão é <strong>de</strong> natureza realista e<br />

naturalista, positivista, documentado horizontalmente com espírito científico;<br />

na <strong>de</strong> Guimarães Rosa o sertão é vertical, <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro para fora, mistura digerida<br />

dos dois tipos <strong>de</strong> sertão, que passa a ser compreendido como o lugar, melhor, o<br />

luar – o lu(g)ar – da imaginação ou das superstições nas noites claras, como a<br />

que se tece em torno do pássaro urutau, também conhecido como o mãe-da-lua,<br />

que vive amedrontando os sertanejos, sobretudo nas noites <strong>de</strong> lua cheia.<br />

Nota<br />

Os dicionários etimológicos partem sempre do princípio <strong>de</strong> que <strong>de</strong>vem registrar<br />

a origem da palavra neolatina no latim, não se dando conta <strong>de</strong> que, muitas<br />

vezes, a significação culturalmente dominante ultrapassa a língua latina,<br />

como é o caso <strong>de</strong> ARTE, remetida imediatamente para o lat. ars, artis. Acontece<br />

que a ars latina só po<strong>de</strong> ser bem explicada a partir da areté [’αρετ] grega, esforço<br />

que se punha para atingir o melhor em qualquer ativida<strong>de</strong> humana. Sem<br />

esta significação, oblitera-se o sentido mais profundo da téchné [τχνη], que,<br />

no latim, per<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> seu significado para areté, através da forma ars,<br />

artis, tanto que o significado <strong>de</strong> técnica continua ligado intimamente ao <strong>de</strong> arte.<br />

O mesmo acontece com o termo SENTIDO, imediatamente ligado ao lat. sentire,<br />

por sua vez proveniente do subst. sensus, us. Só que a acepção <strong>de</strong> “direção”<br />

que aparece em todas as línguas românicas, juntamente com a <strong>de</strong> “sensibilida<strong>de</strong>”,<br />

provém da raiz germânica sin ou sinnes: as duas acepções é que dão a significação<br />

maior da palavra sentido, isto é, as parcelas <strong>de</strong> “significados” que se tomam<br />

em <strong>de</strong>terminada “direção” da análise, sobretudo dos textos literários.<br />

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