Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Antonio Houaiss<br />
staff. Mas o episódio fundamental foi a doença <strong>de</strong> Ruth, sua extraordinária<br />
companheira <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> lutas i<strong>de</strong>ológicas.<br />
A doença <strong>de</strong> Ruth foi <strong>de</strong>tectada em 03.11.1987. Na noite anterior, Dia <strong>de</strong><br />
Finados, me telefonou. Tinha um gânglio no pescoço e infelizmente, em fumante<br />
inveterada que sempre fora, redundou em evolução maligna terminada<br />
em 04 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1988, após sofrimento intenso para os dois, pois Antonio<br />
não mediu esforços à procura <strong>de</strong> tratamento eficaz. Excelentes oncologistas<br />
cuidaram-na com <strong>de</strong>svelo, inclusive um brasileiro que era do staff do Hospital<br />
Johns Hopkins e que veio algumas vezes visitá-la, junto com seus colegas do<br />
Rio. Tudo, porém, em vão, e com isto se abriu enorme vácuo na existência <strong>de</strong><br />
Antonio.<br />
Foi quando iniciamos uma verda<strong>de</strong>ira força-tarefa para manter acesa a chama<br />
vital do nosso mestre, com visitas sortidas e frequentes, e sobretudo encontros<br />
gastronômicos que incluíam amiú<strong>de</strong> o Albamar, o Rio Minho, o Alfaia e<br />
tantos outros restaurantes, em companhia <strong>de</strong> Roberto Amaral, Evandro Lins e<br />
Silva, Jamil Haddad, Afonso Arinos Filho, Francisco Melo Franco e inúmeros<br />
outros colegas diplomatas, companheiros do PSB. Às vezes, vinha o Clau<strong>de</strong><br />
Troigros à casa <strong>de</strong> Antonio e juntos faziam seus pratos prediletos. Guilherme<br />
<strong>de</strong> Figueiredo <strong>de</strong>screveu Houaiss como o “hedonista da gastronomia”. Gostava<br />
do famoso queijo da Serra da Estrela, criou-se a “lagosta à Houaiss” em sua<br />
homenagem, e era um profundo conhecedor <strong>de</strong> vinhos e cervejas, a ponto <strong>de</strong><br />
publicar um livro sobre a produção <strong>de</strong>sta última.<br />
Suas inúmeras facetas e interesses fizeram <strong>de</strong>le professor, <strong>de</strong>pois veio a ser<br />
conferencista, escritor, artesão do vocábulo, jornalista, crítico literário, filólogo<br />
e linguista, sociólogo e filósofo, tradutor <strong>de</strong> Ulisses <strong>de</strong> Joyce, enciclopedista,<br />
lexicógrafo e lexicólogo, diplomata, cientista político e político socialista militante.<br />
No período em que fez parte da <strong>de</strong>legação brasileira na ONU, entre 60<br />
e 64, exerceu enorme influência sobre os diplomatas dos países colonizados e<br />
terceiro-mundistas, quando esteve sob o comando do Embaixador Affonso<br />
Arinos e com inúmeros outros <strong>de</strong>legados, inclusive Josué <strong>de</strong> Castro e Francisco<br />
Mello Franco. Foi um lutador pertinaz e ícone da unificação da ortografia<br />
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