Prosa - Academia Brasileira de Letras
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<strong>Prosa</strong><br />
O luar e o lugar<br />
dos sertões<br />
Gilberto Mendonça Teles<br />
Apalavra sertão 1 tem servido, em Portugal e no Brasil, para <strong>de</strong>signar<br />
o “incerto”, o “<strong>de</strong>sconhecido”, o “longínquo”, o “interior”,<br />
o “inculto" (terras não cultivadas e <strong>de</strong> gente grosseira),<br />
numa perspectiva <strong>de</strong> oposição ao ponto <strong>de</strong> vista do observador, que<br />
se vê sempre no “certo”, no ”conhecido", no “próximo”, no “litoral”,<br />
no “culto”, isto é, num lugar privilegiado – na “civilização”. É<br />
uma <strong>de</strong>ssas palavras que traz em si, por <strong>de</strong>ntro e por fora, as marcas<br />
do processo colonizador. Ela provém <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> linguagem em<br />
que o símbolo comandava a significação (re)produzindo-a <strong>de</strong> cima<br />
para baixo, verticalmente, sem levar em conta a linguagem do outro,<br />
do que estava sendo colonizado. Refletia na América o ponto <strong>de</strong> vis-<br />
Poeta e ensaísta.<br />
Professor<br />
Emérito da<br />
PUC-Rio e da<br />
Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás.<br />
1 Na sua forma inicial, <strong>de</strong> conferência, publicado em francês no Colloque International –<br />
Sertão: Réalité, Mythe et Ficction. Université <strong>de</strong> Haute Bretagne, Rennes, França, 1991.<br />
Ampliado e transcrito em A Escrituração da Escrita. Petrópolis: Vozes, 1996. Novamente<br />
ampliado para O Clarim e a Oração: Cem anos <strong>de</strong> Os Sertões. São Paulo: Geração, 2002.<br />
E em Via Viator: Estudos em homenagem a Fernando Cristóvão. Lisboa: Colibri, 2004.<br />
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