03.01.2015 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

As duas vidas <strong>de</strong> Nabuco: o reformador e o diplomata<br />

OenigmaNabuco<br />

Nabuco provoca surpresas pelo foco pessoal na pioneira autobiografia Minha<br />

Formação, pela <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong> em O Abolicionismo” e pela exaltação<br />

e também pela crítica indireta que faz da “gran<strong>de</strong> era brasileira” em Um<br />

Estadista do Império. On<strong>de</strong> está afinal a essência <strong>de</strong> Nabuco<br />

É por um lado “<strong>de</strong>sertor <strong>de</strong> sua casta, <strong>de</strong> sua classe, <strong>de</strong> sua raça”, no dizer<br />

<strong>de</strong> Gilberto Freyre, e, por outro, mantém uma fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> quase incompreensívelàMonarquiaeaD.PedroII.Omonarquistaeoreformistasocial,<br />

o diplomata<br />

e o teórico humanista, o <strong>de</strong>fensor da or<strong>de</strong>m e da libertação humana,<br />

todos conviviam no espírito <strong>de</strong> Joaquim Nabuco. Mais do que a evolução do<br />

dândi juvenil para o intelectual engajado da maturida<strong>de</strong> – do Quincas, o<br />

Belo, para o abolicionista –, a ausência <strong>de</strong> aparente coesão no seu sistema <strong>de</strong><br />

crenças amplifica seu caráter enigmático. A gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> Joaquim Nabuco<br />

também é <strong>de</strong>scortinada pela natureza não-linear <strong>de</strong> seu pensamento.<br />

Numa tentativa <strong>de</strong> compreensão da personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nabuco, <strong>de</strong>staca<br />

Francisco Iglésias que “a aparência apolínea do moço pre<strong>de</strong>stinado à política<br />

escondia um homem sensível, angustiado, muitas vezes perto do <strong>de</strong>sespero”.<br />

<br />

“Il fait jour dans votre âme ainsi que sur vos fronts.<br />

La nôtre est une nuit où nous (nous) égarons”<br />

Este verso do poema trágico “Toussaint Louverture”, <strong>de</strong> Lamartine, é utilizado<br />

por Nabuco como epígrafe do seu O Abolicionismo. A evocação do herói da in<strong>de</strong>pendência<br />

haitiana é <strong>de</strong> uma dramática oportunida<strong>de</strong>. Este achado, quase casual,<br />

em meio ao garimpo dos textos <strong>de</strong> Nabuco me leva a concluir esta palestra com<br />

uma sentida e profunda homenagem aos muitos – brasileiros, haitianos e pessoas<br />

<strong>de</strong> uma plêia<strong>de</strong> <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong>s – que tiveram suas vidas ceifadas pelo terremoto<br />

que vitimou o Haiti no dia 12 último. E não só a eles, mas aos que, com<br />

43

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!