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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Sob o signo <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s – um <strong>de</strong>poimento<br />

<strong>de</strong>sencantamento do mundo; Ernst Bloch, por ser a maior autorida<strong>de</strong> em milenarismo<br />

e messianismo; o Hobsbawm <strong>de</strong> Rebel<strong>de</strong>s Primitivos e<strong>de</strong>Bandidos, que<br />

criou a categoria das rebeldias pré-políticas; e o Engels das guerras camponesas.<br />

Ou seja, o próprio objeto <strong>de</strong> estudo reivindica esses campos e autores.<br />

“Tempo <strong>de</strong> guerra, mentira como terra”<br />

Na abordagem das reportagens coevas à guerra, que <strong>de</strong>pois se tornou o livro<br />

No Calor da Hora, uma das coisas mais surpreen<strong>de</strong>ntes foi perceber como era<br />

corriqueira a falsificação do noticiário. Saíam em Nova York e Paris notícias<br />

que eram claramente forjadas aqui e <strong>de</strong>pois mandadas para lá.<br />

Os jornais publicavam as novas <strong>de</strong> que havia navios <strong>de</strong> outros países ao largo<br />

da Bahia, prontos para invadir o Brasil. Foram também vistos e noticiados<br />

treinadores militares estrangeiros no sertão, em Canudos, falando outras línguas<br />

e equipando os insurretos com o mais mo<strong>de</strong>rno armamento.<br />

E Eucli<strong>de</strong>s, como todo mundo, acreditava piamente nessa frau<strong>de</strong>. Mas dá<br />

para enten<strong>de</strong>r por quê. O Brasil tinha acabado <strong>de</strong> proclamar a República e <strong>de</strong><br />

abolir a escravidão, o que trouxe <strong>de</strong>safogo do vexame <strong>de</strong> pertencer a um país<br />

com rei e escravos. Na década <strong>de</strong> 1820, quando a América Latina inteira (exceto<br />

Cuba) se emancipou, só o Brasil continuou monarquista e escravista,<br />

apesar <strong>de</strong> também ter conquistado a in<strong>de</strong>pendência. Não podíamos aspirar a<br />

ser um país civilizado enquanto não fôssemos uma república laica <strong>de</strong> homens<br />

livres.<br />

No momento em que foi proclamada a República, o sentimento geral foi o<br />

<strong>de</strong> que tínhamos dado um salto rumo à mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> e ao progresso. E nesse<br />

ponto estoura uma insurreição monarquista e católica, reacionária, portanto,<br />

obra <strong>de</strong> analfabetos miseráveis do sertão que pretendiam restaurar o Antigo<br />

Regime.<br />

O que fez com que as pessoas acreditassem com tanta facilida<strong>de</strong> nessa armação<br />

<strong>de</strong> má-fé foi o retorno do reprimido. O que estávamos reprimindo O<br />

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