Prosa - Academia Brasileira de Letras
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O luar e o lugar dos sertões<br />
Aliás, nessa mesma página, vê o livro <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s como um “curioso amálgama<br />
<strong>de</strong> ensaio científico, relato literário e panfleto, <strong>de</strong>núncia do ‘crime’ da repressão<br />
ao messianismo sertanejo” que, por isso mesmo, cobriu <strong>de</strong> glória o seu<br />
autor. Na esteira dos primeiros críticos também fala em “saga sertaneja”, “alcance<br />
épico da pintura” que “não <strong>de</strong>riva das teses racistas”, mas “do sopro <strong>de</strong><br />
transfiguração artística em que o prosador forjou os protagonistas e massas do<br />
drama <strong>de</strong> Canudos”. Mas termina dizendo que “Os Sertões são o clássico do<br />
ensaio <strong>de</strong> ciências humanas no Brasil” (p.198).<br />
ALFREDO BOSI, na importante História Concisa da Literatura <strong>Brasileira</strong> (1970),<br />
diz coisas novas sobre a obra <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s da Cunha. Para ele “É preciso ler esse<br />
livro singular sem a obsessão <strong>de</strong> enquadrá-lo em um <strong>de</strong>terminado gênero literário,<br />
o que implicaria em [sic] prejuízo paralisante. Ao contrário, a abertura a<br />
mais <strong>de</strong> uma perspectiva é o modo próprio <strong>de</strong> enfrentá-lo” (p. 348). Com uma<br />
visão filosófica e sociológica dirigida na compreensão da literatura a serviço<br />
do homem, Alfredo Bosi nos diz que<br />
“É mo<strong>de</strong>rna em Eucli<strong>de</strong>s a ânsia <strong>de</strong> ir além dos esquemas e <strong>de</strong>svendar o mistério<br />
da terra e do homem brasileiro com as armas todas da ciência e da sensibilida<strong>de</strong>.<br />
Há uma paixão do real em Os Sertões que transborda dos quadros do<br />
seu pensamento classificador; e uma paixão da palavra que dá concretíssimos<br />
relevos aos momentos mais áridos <strong>de</strong> sua engenharia social” (p. 347).<br />
Outro historiador <strong>de</strong> São Paulo, MASSAUD MOISÉS, também professor da<br />
USP, publicou em 1984 uma História da Literatura <strong>Brasileira</strong>. A sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
resumir os acontecimentos literários e <strong>de</strong> tratá-los historicamente, com discernimento<br />
crítico, é um dos pontos altos dos três volumes <strong>de</strong> seu estudo. No terceiro<br />
<strong>de</strong>les <strong>de</strong>dica boas páginas a Os Sertões, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo o livro como ensaio, o que<br />
me parece correto, mas <strong>de</strong>ixando alguma dúvida com a sua solução <strong>de</strong> obra bifronte:<br />
“Se não é pertinente falar em obra <strong>de</strong> ciência, ou em obra literária pura e<br />
simples; se as duas modalida<strong>de</strong>s estão verda<strong>de</strong>iramente presentes, as mais das vezes<br />
numa mescla compacta, é porque se trata <strong>de</strong> uma obra bifronte” (p. 562).<br />
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