Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Marcos Vinicios Vilaça<br />
ciso <strong>de</strong>struir a obra da escravidão” e implementar a “<strong>de</strong>mocratização do<br />
solo”.<br />
Por tudo isto, Minha Formação é o seu melhor retrato e o seu melhor momento,<br />
inclusive como restituição do cidadão do mundo, restituição do extraviado<br />
ao seu chão. Ele sempre disse: “Sou cativo <strong>de</strong> Pernambuco.”<br />
A <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> é em gran<strong>de</strong> parte o contraste entre dois homens inseparáveis:<br />
Machado <strong>de</strong> Assis, o humil<strong>de</strong> que se fez aristocrata das letras, e Nabuco, que,<br />
pertencendo à hierarquia do Império, se fez humil<strong>de</strong> para melhor escutar os<br />
gritos <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>.<br />
Atentemos para o que disse, insuspeitamente, Graça Aranha: “Na sua vida<br />
precária, sem pouso certo, sem meios, perseguida pela ironia, atacada pelo <strong>de</strong>speito,<br />
a <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> encontra a sua resistência moral em Machado <strong>de</strong> Assis e Joaquim<br />
Nabuco, o par glorioso que ela pusera à sua frente, e cuja assistência justificaria<br />
diante do público a sua aparição no caos literário.”<br />
Explica-se que a <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> registre o centenário <strong>de</strong> morte <strong>de</strong> Joaquim Nabuco<br />
com permanente curiosida<strong>de</strong> e completa empatia, tal como fez em relação<br />
a Machado <strong>de</strong> Assis.<br />
Promoveremos ciclo <strong>de</strong> conferências, reedições <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong> suas obras, iremos<br />
a Londres e a Washington para comemorações especiais com a intelectualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ssas cida<strong>de</strong>s nas quais serviu como embaixador, iremos nos curvar reverentes<br />
no Recife e em Massangana, on<strong>de</strong> ouviremos as badaladas do sino da capela <strong>de</strong><br />
S. Mateus, o seu “muezzin íntimo”, como belamente recordou Evaldo Cabral<br />
Mello.<br />
Tudo isso se fará como ensinou Agostinho <strong>de</strong> Hipona a respeito do triplo<br />
presente: o presente do passado – a memória; o presente do presente – a percepção;<br />
o presente do futuro – a esperança.<br />
Temos certeza <strong>de</strong> que os brasileiros estarão ainda mais convencidos da sabedoria<br />
<strong>de</strong>le recordando o que, em 1909, escreveu no seu diário pessoal: “O<br />
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