Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
MachadoeoRio<strong>de</strong>Janeiro<br />
Machado enxergava o Brasil do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong>, a corte, a capital,<br />
a cabeça da nação. A acusação <strong>de</strong> absenteísmo frequentemente dirigida a<br />
Machado é falsa e caluniosa. Absenteísta (pernóstica palavra, que dói no ouvido)<br />
é a pessoa que não assume posição nas questões <strong>de</strong> interesse público ou<br />
coletivo, seja no plano nacional, estadual ou municipal. Ora, no que diz respeito<br />
ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, basta passar os olhos pelas crônicas machadianas para<br />
constatar sua preocupação permanente e reiterada com os problemas da cida<strong>de</strong>,<br />
seu futuro e sua administração. E no tocante ao interesse nacional, suas posições<br />
sempre foram muito nítidas e firmes. Machado não <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u publicamente<br />
a Abolição (mesmo porque na sua condição <strong>de</strong> funcionário do governo<br />
não podia sustentar abertamente a causa abolicionista, como observa Ayrton<br />
Marcon<strong>de</strong>s), mas há provas <strong>de</strong> que se regozijou com o 13 <strong>de</strong> Maio, como<br />
consta inclusive <strong>de</strong> trechos <strong>de</strong> sua obra (em Esaú e Jacó, por exemplo).<br />
Machado sempre se manteve leal ao trono, à Monarquia, e não manifestou<br />
entusiasmo algum quando da proclamação da República. A Guerra do Paraguai<br />
foi mais <strong>de</strong> uma vez lembrada em suas crônicas, e a <strong>de</strong>fesa da soberania<br />
nacional foi assumida corajosamente pelo então jornalista quando da Questão<br />
Christie. Poucos sabem que Machado na ocasião publicou nas páginas dos<br />
jornais um hino patriótico <strong>de</strong> sua autoria, o “Hino dos Voluntários” (cf. Magalhães<br />
Júnior e Ayrton Marcon<strong>de</strong>s, ob. cit., p.121).<br />
E que dizer do retrato em sépia do velho Brasil imperial estampado nas páginas<br />
antológicas <strong>de</strong> “O Velho Senado” Zacarias <strong>de</strong> Góes, o encanecido e respeitado<br />
lí<strong>de</strong>r liberal, Itanhaém, Eusébio <strong>de</strong> Queirós, Nabuco <strong>de</strong> Araújo, Olinda,<br />
Uruguai, Montezuma, Paranhos... “Achava-lhes uma feição particular, meta<strong>de</strong><br />
militante, meta<strong>de</strong> triunfante, um pouco <strong>de</strong> homens, outro pouco <strong>de</strong> instituição”<br />
(“O Velho Senado”, em Páginas Recolhidas, O.C., II, 637).<br />
Outras reminiscências dos senadores do Império encontram-se nas Crônicas.<br />
Esta que segue é imperdível:<br />
“Eis aqui Eusébio <strong>de</strong> Queirós, chefe dos conservadores, respeitado pela<br />
capacida<strong>de</strong> política, admirado pelos dotes oratórios, invejado talvez pelos<br />
161