Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Gilberto Mendonça Teles<br />
Catiti, Catiti<br />
Imára notiá<br />
Notiá imára,<br />
Epejú [Fulano]<br />
Emú manuára<br />
Ce recé [Fulana]<br />
Cuçukui xa icó<br />
Ixé anhú i piá póra. 4<br />
A poesia do clarão da lua ilumina os contos e lendas do sertão, criando fantasmagorias,<br />
imagens dúbias, elementos do fantástico em que as coisas e os seres<br />
são e não são ao mesmo tempo, propiciando aos contistas a linguagem <strong>de</strong><br />
um realismo mágico, impossível <strong>de</strong> se esquecer na literatura regional brasileira,<br />
mesmo quando não havia ainda uma literatura brasileira.<br />
Na vasta obra do PE. JOSÉ DE ANCHIETA, a palavra sertão confirma o significado<br />
<strong>de</strong> terras distantes do litoral, em oposição geográfica e cultural a ele,<br />
mas já se apresenta <strong>de</strong>signando o lugar <strong>de</strong> gente (índio) que precisa ser catequizada,<br />
como na estrofe 17 do poema “De São Maurício”, escrito em torno<br />
<strong>de</strong> 1580:<br />
“Mártires mui esforçados,<br />
pois sois nossa <strong>de</strong>fensão,<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>i com vossa mão,<br />
vossos filhos e soldados,<br />
que são idas ao sertão,<br />
pois vão, com boa intenção,<br />
a buscar gente perdida,<br />
4 Tradução: “Lua Nova, ó Lua Nova! Assoprai em Fulano lembranças <strong>de</strong> mim; eis-me aqui, estou em<br />
vossa presença; fazei com que eu tão-somente ocupe seu coração”.<br />
186