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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Leo<strong>de</strong>gário A. <strong>de</strong> Azevedo Filho<br />

Invenção e Memória (2000), agora publicadas pela Companhia das <strong>Letras</strong>. A<br />

reedição foi minuciosamente feita, pois acredita que nos <strong>de</strong>talhes é que Deus<br />

aparece: Ana Maria Machado e José Saramago, em posfácio, uma brasileira e<br />

um português, elogiam a sua ficção e as suas qualida<strong>de</strong>s humanas sutilmente<br />

reveladas no livro Invenção e Memória, por nós já analisado em outro ensaio.<br />

Nela, o conceito <strong>de</strong> real é dado importante que logo se oferece à consi<strong>de</strong>ração<br />

da análise crítica.<br />

Com efeito, em sua linguagem literária, o conceito <strong>de</strong> real, felizmente, está<br />

muito longe <strong>de</strong> ser fotográfico, pois nele não se espelha o reflexo do mundo<br />

exterior, mas o real <strong>de</strong>sse reflexo, o que é muito diferente. Assim, em sua autêntica<br />

linguagem literária, o real do texto é aquilo que o próprio texto vai<br />

construir como verda<strong>de</strong>. Não é, <strong>de</strong> forma alguma, simples cópia do mundo exterior,<br />

pois a expressão <strong>de</strong> sua visão realista não se <strong>de</strong>ixa aprisionar pelas circunstâncias<br />

do mundo exterior. Ao contrário, o que se tem é um realismo<br />

libertado, como nos gran<strong>de</strong>s e verda<strong>de</strong>iros escritores.<br />

Com efeito, a sua linguagem sempre interroga o Ser diante do mistério. Por<br />

isso mesmo a estática da língua enriquecedoramente se transforma na dinâmica<br />

do discurso literário, numa espécie <strong>de</strong> humanismo vertical. Por isso, na sua<br />

ficção, o que se nos <strong>de</strong>para é uma espécie <strong>de</strong> conflito em que o homem, por vezes,<br />

se <strong>de</strong>sespera e outras vezes se ilumina. Daí a qualida<strong>de</strong> maior <strong>de</strong> sua ficção<br />

sempre voltada para a análise da condição humana, em sua gran<strong>de</strong>za e em sua<br />

precarieda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> há risos e lágrimas, tudo isso construindo um tecido narrativo<br />

<strong>de</strong> profunda essência humana. Exemplifiquemos: num conto como “O<br />

Menino”, topa-se com o <strong>de</strong>smoronar do mundo infantil pelo conflito direto<br />

com a mentira do mundo. Ou, num romance como Ciranda <strong>de</strong> Pedra, sente-se a<br />

dor angustiante <strong>de</strong> Virgínia, revelando seu conflito interior. No conto “Biruta”<br />

têm-se um menino órfão e seu cãozinho em dolorosa frustração, como se<br />

tem o amor <strong>de</strong> mãe ferido na ambiguida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um conto como “Natal na Barca”<br />

e tem-se ainda a exploração das fronteiras entre o real e o irreal em “O Encontro”.<br />

Veja-se, por fim, a narrativa <strong>de</strong> impacto em “Venha ver o pôr-do-sol”, ou<br />

então se contemple o mistério numa narrativa inverossímil, como “O Noivo”,<br />

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