Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O luar e o lugar dos sertões<br />
léguas da mesma vila, vão continuando para o sertão com grandíssima altura, e<br />
acabam em serranias que penetram os ares”. Na página seguinte, junta num<br />
único parágrafo informações sintéticas [dir-se-iam poéticas] sobre Bahia,<br />
Espírito Santo, Minas Gerais, Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo. Depois <strong>de</strong> anotar<br />
que o Serro Frio tem “mais partos <strong>de</strong> ouro” que “as minas <strong>de</strong> Potosí tiveram<br />
<strong>de</strong> prata”, escreve:<br />
“A estupenda serra <strong>de</strong> Paranapiacaba, que, tendo assento no continente<br />
vizinho às vilas <strong>de</strong> Santos e S. Vicente, vai inconstantemente subindo em<br />
voltas, umas sobre o mar, outras para o interior da terra, e dando por algumas<br />
partes entrada menos difícil, por outros estreitos e fragoso trânsito para a<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> S. Paulo, que lhe fica pelo sertão sete léguas distantes” [p. 22].<br />
Um tanto hiperbolicamente fala do Rio São Francisco que, com o Amazonas<br />
e o da Prata, “po<strong>de</strong>m fazer um triunvirato das águas dominantes sobre todos<br />
os rios do mundo”, acrescentando que “fecundísisimas e medicinais as<br />
suas águas, navegáveis <strong>de</strong> embarcações medianas mais <strong>de</strong> 40 léguas pelo sertão;<br />
por duas [sic] abre a boca, querendo tragar o mar quando nele entra, e por muitas<br />
o penetra, adoçando-lhe as ondas” [p. 23].<br />
Depois aparece o Diálogo das Gran<strong>de</strong>zas do Brasil, editado em 1741 e hoje atribuído<br />
a AMBRÓZIO FERNANDES BRANDÃO. A palavra sertão já aparece no primeiro<br />
diálogo, quando Brandônio levanta, talvez pela primeira vez, o problema <strong>de</strong><br />
que os espanhóis eram melhores conquistadores do que os portugueses. Ao que<br />
Alviano confirma, dizendo quase à maneira <strong>de</strong> Frei Vicente do Salvador:<br />
“Como não, se vemos que, em tanto tempo que habitam neste Brasil, não se alargaram<br />
para o sertão para haverem <strong>de</strong> povoar nele <strong>de</strong>z léguas, contentando-se <strong>de</strong>,<br />
nas fraldas do mar, se ocuparem somente em fazer açúcares” [p. 29]. E no<br />
“Diálogo Quinto”, tratando das aves e pássaros, fala dos anuns [anus] dizendo,<br />
pela boca <strong>de</strong> Brandônio, que são pretos por não terem sangue. Alviano estranha<br />
e Brandônio acrescenta: “Pois assim passa, que estes pássaros o não têm.<br />
Hyendaias [jandaias] são outros pássaros que se criam no sertão” [p. 203].<br />
181