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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Sob o signo <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s – um <strong>de</strong>poimento<br />

seu estilo já era um tanto arcaizante e retrógrado. Já havia Machado <strong>de</strong> Assis,<br />

que é mais limpo, no qual há uma estética do <strong>de</strong>spojamento, ao passo que em<br />

Eucli<strong>de</strong>s há um pendor ao exagero, que vai acumulando as expressões e os<br />

pleonasmos. Nosso autor os corrige nas várias campanhas <strong>de</strong> emendas que<br />

efetuou nas diferentes edições, já que sua tendência natural era escrever “progrediu<br />

para adiante”. Sua índole é pleonástica.<br />

Certamente mistura três estilos: naturalismo, parnasianismo e uma espécie<br />

<strong>de</strong> neo-romantismo, ou traços remanescentes do romantismo. Isso se verifica<br />

sobretudo, mas não só, na concepção do artista enquanto vate inspirado e visionário,<br />

<strong>de</strong>fensor dos oprimidos. Como Castro Alves, que era portavoz dos escravos:<br />

Castro Alves também é excessivo – o que é uma tendência romântica.<br />

Constata-se em Os Sertões a preocupação científica do naturalismo e do <strong>de</strong>terminismo,<br />

casados ao parnasianismo das <strong>de</strong>scrições. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s<br />

para a <strong>de</strong>scrição fotográfica e até cinematográfica é um traço parnasiano, pois<br />

foram os parnasianos que tornaram a visualida<strong>de</strong> prioritária. A visualida<strong>de</strong> em<br />

Eucli<strong>de</strong>s é parnasiana, porém mesclada <strong>de</strong> emoção; ele é apaixonado, não tem a<br />

isenção parnasiana. Nele o parnasianismo, <strong>de</strong>vido à impregnação da vertente<br />

romântica, torna-se emotivo.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista dos gêneros, trata-se <strong>de</strong> uma narrativa, um epos, mas <strong>de</strong><br />

guerra. Esta, por natureza, se expressa no gênero dramático, que é o modo do<br />

conflito. Em qualquer peça <strong>de</strong> teatro há um conflito entre duas pessoas, ou entre<br />

dois partidos, ou entre duas famílias. Como narrativa <strong>de</strong> guerra, embora<br />

seja substantivamente um epos, adjetivamente o livro mobiliza recursos do gênero<br />

dramático. Há dois gêneros literários, um brigando com o outro, e isso<br />

somado aos três estilos.<br />

Acrescente-se o que se po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> ambição enciclopédica, pois Eucli<strong>de</strong>s<br />

ten<strong>de</strong> ao enciclopedismo e ao ensaísmo. De vez em quando nosso autor<br />

suspen<strong>de</strong> a narrativa e elabora um pequeno ensaio sobre algum tema, sobre a<br />

gênese do mestiço, por exemplo, ou sobre o cristianismo primitivo. Por isso,<br />

trata-se <strong>de</strong> um livro <strong>de</strong> composição muito complexa, muito <strong>de</strong>sigual, muito irregular.<br />

Tanto mais fascinante.<br />

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