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Capa e Índice - Fundação Cultural Palmares

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CLIPPING— Os dois eram muito religiosos. Consideravam nossos antepassados como pessoas quetrabalhavam para eles. Vários até tinham casas para morar — conta a aposentada Ilza deMatos Machado, 68 anos, moradora da região e responsável pelo conselho fiscal dacomunidade quilombola de Casca, como a área localizada junto ao km 95 da RST­101 éconhecida.Já viúva, Quitéria se mudou para Porto Alegre e deixou os 23 empregados negros vivendo naantiga sesmaria. Doente, antes de morrer decidiu registrar em testamento a decisão de dar aosescravos a liberdade e a posse da terra onde viviam — 64 anos antes da abolição daescravatura no país. Apesar da intenção da fazendeira, o benefício jamais resultou em umregistro em cartório. A área foi invadida inúmeras vezes nas décadas e nos séculos seguintes,e os moradores precisaram conviver com a ameaça de serem expulsos do terreno.Essa situação vai mudar às 11h de hoje, 186 anos após a elaboração do testamento, com aentrega do título de propriedade dos primeiros 1,2 mil hectares do total de 2,3 mil. O restanteestá em processo de desapropriação.Condições modestasAutoridades esperadas para a cerimônia, como o presidente do Instituto Nacional deColonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, vão encontrar cerca de 250 pessoasvivendo em condições modestas. Contam com água e luz, os mais velhos vivem do dinheiro daaposentadoria como agricultores, mas boa parte dos mais jovens se vê obrigada a trabalhar emoutras fazendas para sobreviver. O plantio próprio de variedades como milho e batata serveapenas à subsistência.Faltavam condições de cultivar lavouras rentáveis, como arrozais. Há pouco mais de um ano,apenas, receberam equipamentos como trator e debulhadora de milho. Outras famíliaspreferiam arrendar o terreno, o que a partir de agora fica proibido.— Temos intenção de formar uma cooperativa e dar início ao plantio de arroz. Mas o maisimportante é que agora teremos um documento para deixar para nossos filhos e netos dizendoque essa terra tem dono — afirma o presidente da Associação Comunitária Dona Quitéria, oagricultor aposentado Diosmar Lopes da Rosa, 82 anos.A tentativa de regularização ganhou força em 1999, com a organização dos moradores emuma associação, e em 2001, quando receberam o reconhecimento como comunidadequilombola por parte da <strong>Fundação</strong> <strong>Cultural</strong> <strong>Palmares</strong>. A Casca foi uma das primeiras áreas deremanescentes de quilombos do Estado a conseguir esse reconhecimento, o primeiro passopara obter o registro de propriedade. O último será dado hoje, quando o sonho registrado emtestamento há dois séculos sair do papel.Estado é o sexto maior em número de quilombolasJornais e Revistas_________________________________________________________ 29

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