○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○Peças e Julga<strong>do</strong>s○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○in<strong>de</strong>nizar tal impossível prejuízo econômico,se, no item “a”, já se pe<strong>de</strong> o ressarcimento paraa promoção <strong>de</strong> nova plantação?Como se vê, não houve qualquer serieda<strong>de</strong>e comedimento na formulação <strong>do</strong>s pedi<strong>do</strong>s. Háuma inadmissível sobreposição <strong>de</strong> pleitos.Por <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro, insta salientar que meras alegaçõese suposições são insuscetíveis <strong>de</strong> firmara responsabilida<strong>de</strong> civil <strong>do</strong> agente. Os danos,para serem passíveis <strong>de</strong> reparação, <strong>de</strong>vem sercabalmente comprova<strong>do</strong>s, o que não se verificano caso em <strong>de</strong>bate. O dano jamais po<strong>de</strong> serfunda<strong>do</strong> sobre hipótese (dano hipotético oueventual); <strong>de</strong>ve ser certo, não bastan<strong>do</strong>, pois, asimples possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização <strong>do</strong> lucro.Dano moralO dano moral, como cediço, jamais po<strong>de</strong><strong>de</strong>correr <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> lícita, como é a hipótese<strong>do</strong>s autos.Para que se caracterize dano moral passível<strong>de</strong> reparação civil, mister que haja ilegalida<strong>de</strong>,irregularida<strong>de</strong>, ou negligência na conduta estatal.A ocorrência <strong>de</strong>ssa espécie <strong>de</strong> dano somenteé compatível com a responsabilida<strong>de</strong> subjetiva,fundada na culpa <strong>do</strong> agente.Como a <strong>de</strong>struição das plantas cítricas <strong>do</strong>autor foi inquestionavelmente praticada combase e por <strong>de</strong>terminação das normas jurídicasaplicáveis à espécie, não há que se admitir areparação <strong>de</strong> pretenso dano moral “causa<strong>do</strong>”por legítima atuação <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r Público.A<strong>de</strong>mais, da narração <strong>do</strong>s fatos constanteda petição inicial e <strong>do</strong>s elementos <strong>de</strong> convicçãoreuni<strong>do</strong>s nos autos não se <strong>de</strong>ssume qualquerefetivo abalo moral ou psíquico que teria experimenta<strong>do</strong>o autor em razão <strong>do</strong> evento em <strong>de</strong>bate.Da própria narrativa inaugural, não há comose extrair um prejuízo moral que <strong>de</strong>man<strong>de</strong> oumereça reparação, mormente em face da ausência<strong>de</strong> um concreto resulta<strong>do</strong> lesivo.O que <strong>de</strong>termina se um dano moral é ou nãoin<strong>de</strong>nizável é o resulta<strong>do</strong> que <strong>do</strong> ato dimana;não é o dano jurídico em si que dirá se ele éreparável, mas sim os concretos efeitos que taldano provoca. E, in casu, o autor não conseguiurevelar qualquer conseqüência prejudicial, nocampo moral, que da erradicação <strong>de</strong> seu contamina<strong>do</strong>pomar em si (ato estatal) adveio.Inexiste nos autos qualquer elemento <strong>de</strong> provaque ateste a caracterização <strong>de</strong> dano moralsuscetível <strong>de</strong> in<strong>de</strong>nização.O Desembarga<strong>do</strong>r e professor Carlos RobertoGonçalves, sobre a caracterização <strong>do</strong> danomoral, assevera:“Tem-se torna<strong>do</strong> tormentosa na jurisprudência,por falta <strong>de</strong> critérios objetivos, atarefa <strong>de</strong> traçar os contornos, os limites ea extensão <strong>do</strong> dano moral, para saberquais fatos configuram ou não o danomoral. Para evitar excessos e abusos, recomendaSérgio Cavalieri, com razão,que só se <strong>de</strong>ve reputar como dano moral‘a <strong>do</strong>r, vexame, sofrimento ou humilhaçãoque, fugin<strong>do</strong> à normalida<strong>de</strong>, interfiraintensamente no comportamento psicológico<strong>do</strong> indivíduo, causan<strong>do</strong>-lhe aflições,angústia e <strong>de</strong>sequilíbrio em seu bem-estar.Mero dissabor, aborrecimento, mágoa,irritação ou sensibilida<strong>de</strong> exacerbadaestão fora da órbita <strong>do</strong> dano moral,porquanto, além <strong>de</strong> fazerem parte da normalida<strong>de</strong>no nosso dia-a-dia, no trabalho,no trânsito, entre os amigos e até noambiente familiar, tais situações não sãointensas e dura<strong>do</strong>uras, a ponto <strong>de</strong> rompero equilíbrio psicológico <strong>do</strong> indivíduo’(Programa <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> civil, 2.ed., <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>: Malheiros, p. 78).” (Direitodas obrigações - Parte especial - Responsabilida<strong>de</strong>civil, 2. ed., <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>:Saraiva, 2002, p. 93).Observe-se, a<strong>de</strong>mais, que <strong>do</strong> evento em <strong>de</strong>batenão resultou qualquer lesão <strong>do</strong>s bens queintegram os direitos da personalida<strong>de</strong>, como ahonra, a dignida<strong>de</strong>, a intimida<strong>de</strong>, a imagem, obom nome etc. (art. 5º, inc. X da CF).É nessa conformida<strong>de</strong>, preclaro magistra<strong>do</strong>,que se verifica que o autor não sofreu qualquerreal abalo moral ou psíquico, que, juridicamente,imponha uma reparação civil.○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○B. Cent. Estud., <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, 28(4):479-506, jul./ago. 2004503
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○Peças e Julga<strong>do</strong>s○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ConclusãoDiante <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o exposto, requer o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> seja reconhecida a sua ilegitimida<strong>de</strong>para figurar no pólo passivo <strong>de</strong>ste processo, ou,caso assim não se entenda, o que se admiteapenas para argumentar, seja a ação julgadaimproce<strong>de</strong>nte (ao menos em relação a si), con<strong>de</strong>nan<strong>do</strong>-seo autor, em qualquer hipótese, ao pagamento<strong>do</strong>s ônus da sucumbência, especialmente<strong>do</strong>s honorários advocatícios.Requer, ainda, a juntada <strong>do</strong>s inclusos <strong>do</strong>cumentos(v. relação em anexo) e a produção <strong>de</strong>to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>mais meios <strong>de</strong> provas em direitoadmiti<strong>do</strong>s.Termos em que,P. <strong>de</strong>ferimento.Tupã, 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2002THIAGO PUCCI BEGOProcura<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>_________________________SentençaVistos.Trata-se <strong>de</strong> ação ordinária que H.M. ajuizoucontra a União, com posterior inclusão da Fazenda<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, alegan<strong>do</strong> quesofreu prejuízos – materiais e morais – em virtu<strong>de</strong>da erradicação <strong>de</strong> sua plantação <strong>de</strong> laranjas,por contaminação <strong>de</strong> parte da cultura pelocancro cítrico. Juntou procuração e <strong>do</strong>cumentos,assim como <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> pobreza.Contestação da União, juntan<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentos,alegan<strong>do</strong>, preliminarmente, litisconsórciopassivo necessário da Fazenda Pública <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> e, no mérito, a improcedência<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> inicial.Réplica <strong>do</strong> autor, rebaten<strong>do</strong> a preliminar levantadae reiteran<strong>do</strong> a procedência <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong>inicial.Decisão <strong>do</strong> juiz fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> a citaçãoda Fazenda <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, paracompor o pólo passivo da <strong>de</strong>manda.Contestação da Fazenda <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong><strong>Paulo</strong>, juntan<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentos, alegan<strong>do</strong>, preliminarmente,ilegitimida<strong>de</strong> passiva, coisa julgada(em relação ao manda<strong>do</strong> <strong>de</strong> segurança) e, nomérito, a improcedência <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> inicial.Réplica <strong>do</strong> autor, rebaten<strong>do</strong> a preliminar levantadae reiteran<strong>do</strong> a procedência <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong>inicial.Decisão <strong>do</strong> Juiz Fe<strong>de</strong>ral, repelin<strong>do</strong> as preliminarese sanean<strong>do</strong> o feito.Petição da autora, juntan<strong>do</strong> rol <strong>de</strong> testemunhase <strong>do</strong>cumentos.Audiência realizada.Memoriais <strong>do</strong> autor, juntan<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentos.Memoriais da Fazenda <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong><strong>Paulo</strong> e da União.É o relatório.Passo a <strong>de</strong>cidir.As preliminares já foram apreciadas nas<strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> fls., embora <strong>de</strong>vam ser reapreciadasno mérito, pois com ele se confun<strong>de</strong>m. Parteslegítimas e bem representadas, presentes ospressupostos <strong>de</strong> constituição e valida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo,passo ao julgamento <strong>de</strong> mérito.O mérito apresenta certa complexida<strong>de</strong>, sejapela matéria trazida à discussão, seja pela presença<strong>de</strong> <strong>do</strong>is entes fe<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s, um <strong>do</strong>s quaisagin<strong>do</strong> por <strong>de</strong>legação <strong>do</strong> outro. Com relação àmatéria, saliente-se a existência <strong>de</strong> manda<strong>do</strong> <strong>de</strong>segurança que visava evitar a erradicação dacultura objeto da presente li<strong>de</strong>. Depreen<strong>de</strong>-se,<strong>do</strong> conjunto probatório, que a Fazenda <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> agiu <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s limites legaise da <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r atribuída pela União.A presença da Fazenda <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>,portanto, visava apenas a evitar a sua responsabilizaçãosubsidiária ou regressiva, por parteda União, em caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio da conduta <strong>de</strong>legada.Nada disso parece ter havi<strong>do</strong>, seja pela<strong>de</strong>negação <strong>do</strong> manda<strong>do</strong> <strong>de</strong> segurança (sentença<strong>de</strong> fls.), seja pela própria falta <strong>de</strong> controvérsiaquanto à infecção <strong>do</strong> pomar pela <strong>do</strong>ença. Quantoà necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> erradicação <strong>de</strong> parte <strong>do</strong>pomar (raio <strong>de</strong> 30 metros das plantas infectadas),também não foi objeto <strong>de</strong> controvérsia porparte da União, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> que a Fazenda<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> agiu <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s limitesda <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Aliás, nesse senti<strong>do</strong>,○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○○504 B. Cent. Estud., <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, 28(4):479-506, jul./ago. 2004